sexta-feira, 26 de março de 2010
AUSÊNCIA
Oh, meu Deus, como é tão difícil ser poeta,
Ver toda esta perfeição, a ternura dos amigos,
Toda esta amizade desprendida e sem grilhões,
Um mesmo desejo, uma mesma vontade,
Ai, pintemos de tantas cores este nosso céu,
Como cores ainda existem para além dele e de nós!
Ai, façamos a uma só voz, um único cortejo
De palavras soltas, do focinho das amarras!
Mas meu Deus, porque me que queixo eu,
Porque é tão difícil assim ser poeta, diz-me?
Sair para a rua, içar bandeiras, contrapor, porquê
Porquê, diz-me, ó quem não vejo,
Como quem poda com ambas as mãos, numa a candura
Na outra a colérica, da desdita que nos afronta,
Diz-me, como pode ele merecer tudo isto,
Dos amigos o maior brilho, das palavras ditas
E sentidas o mais do céu e do porvir, que foi buscar à distância
Esta perfeição que me é tão imerecida?
Ah, quisera eu outra coisa, quisera eu não ser nada,
Ir por aí vagando ao vento, não ter alento, não ver,
Não escutar, sem cheiros nem rios que brotassem de pedras,
Ser imune ao grito em desespero, ser omisso à agressão…
Não!… quisera eu antes ser nada, quisera eu ser só esta loucura
Que me consome, e deitar-me a seu lado...
Numa das mãos o lápis, que na outra só o distante do branco
Se veria.
E assim, assim indefeso, não me ser permitido
Ao desabafo, ou ao choro da criança que já dorme,
Cansada que ficou de tentar saber do porquê, de ser tão difícil
O ser-se poeta.
Oh, Mestre, para quando o teu regresso, da minha lonjura?... durmo…
Jorge Humberto
19 de Novembro de 2003
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário