domingo, 16 de janeiro de 2011
FLOR QUEIMADA II
Hoje, estou deveras contente.
Em verdade, nada mudou.
Este estar assim, de repente,
é porque o verso, no verso rimou.
A poesia, é por isso, inconstante.
Não que falsei, no quanto escreve,
mas porque ainda vem distante,
o que ela, a quem versa, bem deve.
Passa um navio: vai de viagem,
para uma qualquer ilha, a se perder.
Quando petiz, gostava de canoagem,
como estou feliz, importa o dever.
Não; não quero vinho! Para festejar!
Que a minha boca é seca, ao pecado.
Ao néctar, dos deuses, irei pois olvidar,
agradecendo, que sou bem-educado.
A tarde está fria; cai pungente, no rio.
Um pouco mais longe, nutrido nevoeiro,
às aldeias esquecidas, e atadas com lio,
gretam os lábios das pessoas, com cieiro.
Então uma leve tristeza, se assoma de mim:
eu que estava tão contente, e assas feliz.
Estou infausto nesta hora; e eu, porque vim?
Choram sentidas as flores, do meu jardim.
Tudo tem sua Razão de ser; vi na televisão!
Criança subnutrida, em flor queimada mexia.
Era seu único jogo: nas mãos deu-se a explosão,
e, o menino, tripas no chão, sua voz gemia.
Jaz e arrefece o menino, por todos abandonado.
Tudo por obra destas guerras, que não cessam,
e deixam, ao acaso, engenhos, não cuidados,
por obra e mão de peritos, que não se revezam.
Como posso continuar contente?
Como? Como?... Quem mo dirá?
Se há coisa que não sou é aparente –
muito menos, o verso se subverterá!
Jorge Humberto
15/01/11
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