domingo, 9 de janeiro de 2011
VERSOS OBLÍQUOS
Nunca soube o que é ser-se,
de mim, para mim!
O que sou? Porque vim?
Se há aqui algum ter-se, a haver-se?
E, em contradição,
bate forte, um coração.
Quem me olha, quanto penso? –
Que, a pensar, levo a vida,
sem grande contra-senso,
que não ela própria, indevida.
Eras, de eras, a passar –
futuros, presentes e passados –,
são como heras, a medrar,
das paredes, aos chãos, enfaixados.
Também os nossos jardins,
devem ser, a todos, abertos –
onde pululem os jasmins,
algumas arcadas, feitas de abetos.
E crianças a sorrir, na macia infância,
no cais, ao longe, e ao critério
das águas, não têm discrepância,
são como flores, e ao seu mistério.
Mas este, nunca estar contente,
este sono, que mi alma, chama,
vem, inútil, como que num repente,
quando o entardecer, em vão, clama.
E escrevo versos, parecidos
comigo, para que mos reconheçam,
quando, aéreos, são paridos,
em partos sem dor, o tanto, que vençam.
Como miles estrelas, no firmamento,
descendo o monte, se clareia,
tudo tem, seu inútil, alinhamento,
e há quem chame coisa bonita, ou feia.
Feio, é o que se esconde ou olvida,
necrológio, que aos olhos, fere –
inda que fútil, a vida é para ser vivida,
não cessem a vontade, que ela gere!
Jorge Humberto
08/01/11
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