Jorge Humberto

Nascido, numa aldeia Portuguesa, dos arredores de Lisboa,
de nome, Santa-Iria-de-Azóia, Jorge Humberto, filho único,
cedo mostrou, toda a sua sensibilidade, para as artes e apurado
sentido estético.
Nos estudos completou o 6º ano de escolaridade, indo depois
trabalhar para uma pequena oficina de automóveis, no aprendizado de pintor-auto.
A poesia surgiu num processo natural, de sua evolução,
enquanto homem. E, a meio a agruras e novos caminhos apresentados, foi sempre esta a sua forma de expressão de eleição.
Auto didacta e perfeccionista (um mal comum a todos os artistas), desenvolveu e criou, de raiz, 10 livros de poesia, trabalhando, actualmente, em mais 6, acumulando ainda
mais algumas boas centenas de folhas, com textos seus,
que esperam inertes, no fundo de três gavetas, a tão desejada e esperada edição, num país, onde apostar na cultura, é quase que crime, de lesa pátria.
Tendo participado em algumas antologias e e-books, tem alguns prémios, sendo o mais recente a Ordem de la Manzana,
prémio atribuído, na Argentina, aos poetas e escritores, destacados a cada ano.
A sua Ordem de la Manzana, data do ano, de 2009.
Sendo ainda de realçar, que Umberto Eco, também foi merecedor, de receber essa mesma Ordem, de la Manzana.
Do mais alto de mim fui poeta... insinuei-me ao homem...
E realizo-me a cada dia ser consciente de muitos.
Quis a lei que fosse Jorge e Humberto, por conjugação
De um facto, passados anos ainda me duvido...
Na orla do Tejo sou Lisboa... e no mar ao largo o que houver.
Eu não sei se escrevo o que penso se penso o que escrevo.
Tenho consciência que escrevo o que me dita a alma e que escrevo para os outros, como forma de lazer ou de pura reflexão.

Escrever é um acto de crescimento para o seu autor e é uma forma de valorizar a vida. Não sei porque escrevo mas sei porque devo escrever.

Menção Honrosa ao Poeta Jorge Humberto

Entrevista do poeta concedida ao grupo Amantes do Amor e da Amizade

Quem é Jorge Humberto?
R: Jorge Humberto sempre teve apetência para a arte,
através do desenho e da pintura. A meio a agruras da vida,
nunca deixou o amor pelo seu semelhante. Auto didata e perfeccionista,
sempre levou seu trabalho através da sabedoria e da humildade.

Em suas veias tem sangue poético hereditário ?
R: Não, sou o único poeta da família.

Como e quando você chegou até a poesia?
R: Cheguei à poesia quando estava num castelo em França,
e escrevi um poema, altas horas da noite, sobre a liberdade
que todo o Homem anseia.

Como surgiu sua primeira poesia e se ela foi feita em momento de emoção?
R: A resposta foi dada acima.

Qual o seu tema preferido ?
R: Não tenho um tema preferido, escrevo sobre tudo, mas como poeta,
que quer aliviar a solidão de muitos de meus leitores, tenho escrito de há tempos para cá, sobre o amor e reflexões e alguns poemas bucólicos.

É romântico ? Chora ao escrever?
R: Acho que sim, que sou romântico, mas os outros falarão disso melhor do que eu. Já chorei a escrever.

Qual sua religião?
R: Agnóstico


Um Ídolo?
R: Fernando Pessoa

Você lê muito? Qual seu autor preferido?
R: Leio todos os dias, quando me deito. Meu autor preferido é o que referi como ídolo.

Quais seus sonhos como poeta?
R:Ver meus poemas impressos em livros e que meus poemas
tragam algo de bom a quem me lê

Como e onde surgem suas inspirações?
R: Surgem naturalmente, através do que vejo, sinto e penso.


Você já escreveu algo que depois de divulgado tenha se arrependido?
R: Digamos que meu lado perfeccionista, já me levou a alterar alguns poemas originais. Mas depois de algumas poesias, em que lhes dei outro cunho, não achei por bem mexer, naquilo que nasce de nós, assim como nascem são meus versos, que divulgo.

Qual o filme que marcou você?
R:" Voando sobre um ninho de cucos/

Como é o amor para você?
R: O amor é dádiva, compreensão e um bem querer de um querer bem.


Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Cuidando dos Jardins

Cuidando dos Jardins
Jorge Humberto-2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

domingo, 28 de fevereiro de 2010


ASSASSINADO



Querem-me preso,
Querem-me calado,
Querem-me omisso,
E querem-me leal
E partidário,
Que lhes diga não
O que for preciso
Mas de seus ideais
Seja solidário.

Querem-me aprumo,
Querem-me sinete,
Querem-me resumo,
Um qualquer joguete
Nas mãos sem sumo,
Falso, estilete,
Doméstico
E sem rumo.

Querem-me,
Mas querem-me
Sobretudo,
Sem ter querer,
Prostituto,
Drogado,
Inócuo,
Inerme,
Sem derme,
Instituto,
Astuto,
À epiderme.

Querem-me riso
Sem siso,
Qualquer coisa,
Desde que coisa
Nenhuma,
Que o seu querer,
Quererem-me
Coisa alguma,
É um querer
Sem ter
O porque viver.


Jorge Humberto
(19/12/2003)

ATÉ BREVE

Tanto gritei eu,
que te amava
e que contigo ficava,
por companheiro
e poeta
das lúcidas manhãs
e das tardes de nevoeiro,
nos Outonos
sem mais abandonos;

que ficasses
com o que era meu,
já que teu seria
de dia,
ou quando a noite
por nós chamasse
e de novo
nos lembrasse
a serenidade
com que nos buscávamos
em verdade.

Fui verso
e fui reverso…

mas o teu nome
não quer sobrenome,
antes a fome
ou a solidão
intensa,
que perderes a liberdade,
por pertença
assiduidade.

Mas eu sigo caminho,
ergo-me de novo,
e ainda que sozinho
eu já vá,
prefiro antes este menino,
bem sossegadinho,
do que perder
o que nem mais havia
que perder,
por de mim tirar
o que em ti punha em viver.



Jorge Humberto
(02:26/Junho/18/03)

sábado, 27 de fevereiro de 2010


O QUE É PRECISO É VIVER


O que é preciso é viver
em perfeita harmonia
e humildade para com os
demais.

Darmos de nós como quem
não dá e sentirmo-nos
recompensados pelo gesto
tido.

Calar a ambiguidade
no focinho da palavra
e sermos honestos
por nós próprios.

Falar da honra dos amigos
que nos são queridos e
almejados sobremaneira
a nosso lado.

É urgente a palavra amor
na boca húmida de cada um
bebendo o néctar da vida
nalguma fonte ali por perto.

É urgente é preciso
a palavra coragem para
resgatarmos o futuro
ao passado saudosista.

Passearmos nossas mãos
nas mãos de uma criança
ou de um velho
vivendo de recordações.

Entoar a canção liberdade
como se fosse a última
coisa que fizéssemos
em nossos dias.

O que é preciso é viver
como o bem pouco que
nos resta doarmo-nos
a todo o instante.

E assim vivermos em paz
e sabedoria
com o nosso semelhante
na diferença de cada um.

Jorge Humberto
27/02/10

Romance bilingue dedicado a mim pelo querido poeta Issar Ramon Aguilera

A Jorge Humberto (Romance)


Tus alas hermano mío
comienzan dentro del pecho,
y se extienden orgullosas
desde la tierra hasta el cielo.
Tus alas son el orgullo
de un hombre entero y discreto,
pero con un gran corazon
que nos deja satisfecho,
por que abraza la esperanza
de todos tus compañeros.
Hermano quiero decirte
que camines este suelo,
que respires muy profundo
el aroma mas primero,
que desprende de las plantas
en tu lugar de abolengo,
son las mismas que aqui crecen,
un rosal, tuzca y helecho
y entremedio de esos verdes
una doncella eviterno,
que mientras cierro los ojos
ella se abraza a un abeto,
y me regala un mensaje
que es el mismo que te presto:
La vida hermano querido
la hallarás en el potrero,
debes buscar en la piedras,
debes oirla en el viento,
aliñar enredaderas
excavar oscuros huecos
pero nunca te acompaña
cuando alimenta el encierro.
Ademas de este romance
a ayudar me comprometo
aunque me hieran los muerdagos
con sus espinas de miedo
te abraza desde mi tierra
mi corazon montonero
y un hada enamorada
te envia muchos destellos.

Issar Ramon Aguilera
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A Jorge Humberto (Romance)


Tuas asas irmão meu
começam dentro do peito,
e se estendem orgulhosas
desde a terra até o céu.
Tuas asas são o orgulho
de um homem inteiro e discreto,
mas com um grande coração
que nos deixa satisfeito,
por que abraça a esperança
de todos teus colegas.
Irmão quero dizer-te
que caminhes este solo,
que respires muito profundo
o aroma mas primeiro,
que desprende das plantas
em teu lugar de abolengo,
são as mesmas que aqui crescem,
um rosal, tuzca e eleito
e entremedio desses verdes
uma donzela eviterno,
que enquanto fecho os olhos
ela se abraça a um abeto,
e me presenteia uma mensagem
que é o mesmo que te presto:
A vida irmão querido
achá-la-ás no potrero,
deves procurar na pedras,
deves ouvi-la no vento,
alinhar enredaderas
escavar escuros ocos
mas nunca te acompanha
quando alimenta o encerro.
Ademais deste romance
a ajudar comprometo-me
ainda que firam-me os muerdagos
com suas espinhas de medo
abraça-te desde minha terra
meu coração montonero
e uma fada apaixonada
te envia muitos destellos.

Issar Ramon Aguilera

AMANHECENDO


No umbral, da janela, de nosso
quarto,
já se escuta o cantar mavioso,
dos pássaros amanhecidos,
no róscido da manhã.

Não se ouve uma leve
brisa,
lá fora, e, o tempo está quente,
o que nos obriga
a abrir as janelas,
refrescando o espaço,
onde descansam nossos segredos,
mais íntimos.

Abertos os estores, com a
claridade entrando,
sem pedir licença,
teu rosto mostra-se generoso,
a um céu azul e límpido,
que se apossa da cor de teus olhos.

Em perfeito silêncio, naturalmente
ensonada,
deténs-te no meu pescoço,
espreitando o movimento da rua,
sem esquecer-mos o beijo,
compartilhado com todo o respeito.

Observas o jardim, lá em baixo, e,
não deixas de notar,
como ele cresce viçoso e colorido,
para olhos cansados.

E aberto o álbum, das recordações,
trazes à lembrança,
que tudo devia ser assim:
acordados que estamos,
para a manhã,
deixar que a beleza, corra-nos no peito.

E sair para a rua,
plenos de amor e auto-confiança,
sempre com um sorriso no rosto,
em caminho sem escombros.

Jorge Humberto
29/10/08

AMOR É E SEMPRE SERÁ


Amor não é uma repetição, de coisas ditas
ou preconizadas. Pois se foram essas coisas,
que, urdidas, com persistência, se fizeram
luz e cor, a cada beijo dado, a cada abraço
sentido, encontrado que foi o gosto, de cada
um, nas mais variadas situações, que, não
tememos nunca, pormos à prova.

Mais o amor nunca foi algoz, nem inflexível,
antes um livro aberto à novidade, descoberta
contínua, que não pára de nos surpreender e
se instala no coração, esperando a sua vez.
É que o amor é curioso, parando em todos os
jardins, fazendo comparações, se estas assim
o bem seduzem, acrescentando algo de novo.

Inicialmente houve recusas (ou antes dúvidas),
e, ambos tivemos de ceder, em nome do amor,
em nome de nós próprios. Não foi nada difícil,
perder determinados caprichos, de toda uma vida,
pois que, o que falava, falou sempre mais alto,
para que escutássemos nossa voz, bem dentro de
nós: unos finalmente, construímos nosso anelo.

Jorge Humberto
20/10/08

AOS MENINOS TRISTES



Menino triste, de calção roto
E de chinelo no pé,
Já vais p’rá guerra,
E nem sabes tu o que é.

Põem-te uma arma na mão,
Sonegam-te os livros
E da criança sua condição,
Mas o que tu não sabes,
É que também para eles,
Que como tu foram oferecidos,
Pelo fundamentalismo tribal,
É normal,
Serem esses tristes meninos,
Sempre sozinhos, de arma
Na mão e sua condição,
Sem prendinhas
Em chegando o Natal.


Jorge Humberto
Portugal
(16/09/2003)

ANJO OU DEMÓNIO



Eu nasci no deserto,
Como coisa
Jogada fora,
Sou filho provindo
Do mais alto de mim,
Que preverso se recolhe
E agoniza,
No coito que o sodomiza.
Sou prostituto
Do meu próprio pensar,
Alma gémea do meu nada,
Concreto e rude,
Golpe fendido,
Em pedra arremessada.
Me predispus
E não fui,
Socalco de um inexistente
Rio.
As mãos de Deus
No raso dos meus olhos,
A recusa abstracta,
Do que influi,
E no fora se retracta.


Jorge Humberto
(08/07/2003)

Antes Do Corpo Cansado...


Perco-me na embriaguez
Do doce néctar de teus seios –
E a noite é uma criança,
Palmilhando caminhos,
Na descoberta quase certa,
De uma incerta insensatez.

No dorso nu que te descubro,
Visto de pele o meu ser –
Mi alma é insana e todos os pecados
São aqui possíveis de realizar,
Nos olhos que nos traem,
Pelas palavras com que calamos,
O último desejo de sermos nós.

Mas se a manhã viesse, antes
Disso tudo, qual de nós restaria –
O corpo é cansado:
Anunciemo-lo – à luz da luz,
À luz de um novo dia.

Jorge Humberto
18/03/05

ÀS PRIMA DONAS
(ou a quem lhe sirva a carapuça)



Juro, meus senhores (sem falsas questões
Sobre separação de sexos),
Que não entendo
Certas prima donas, imbuídas que estão
Do seu dever patrístico, na defesa de suas
Mui simétricas e inflexíveis doutrinas, arregimentadas
Num complexo estreito, e de visão curta,
Do que devem ser
Certos e determinados preceitos a tomar-se,
Para que tais possam por eles enfim serem levados
Em linha de conta, como
Se essa correlação
Fosse uma qualquer religião,
Secretariada por púlpitos capitalistas e
Arrogantes, no julgarem-se importância de facto,
Quando o facto é o eles existirem… e nada mais.

Portanto a cada um sua insignificância,
Que daqui não levam nada.


Jorge Humberto
(17/11/2003)

ASSIM NOS DIZEM AS MÃOS


Que prova, de sentimento e companheirismo,
quando se passeia, de mãos dadas, um casal…
E quanta esperança há nessas mãos, anulando
toda a discórdia emergente, nos dias de hoje…

São de confiança, estas mãos, enlaçadas umas
nas outras… que no amor buscaram rectidão…
E com o passar dos tempos, lúcidas se fizeram
e integrais, consagradas, humildes e altruístas…

Só quem é feliz de mãos dadas, através das ruas
ou simples silêncio, pode repartir, a sua força…
Força essa que nasce, sem algozes ou mentiras
e por isso é pura, e, por isso, deve ser dividida…

Que bonito dois namorados, em leve toque de
mãos, abrangerem um mundo inteiro por amor…
E sem arrogância nem qualquer tipo, de inveja,
amarem às outras pessoas, como a si próprios…

Jorge Humberto
20/04/09

APENAS A VERDADE VINGA

É aquilo, que nos magoa, que nos faz mais fortes.

Tudo se ressume em dignificarmo-nos,
perante o insustentável e o incompreensível.

Como o mar, que traz e leva de volta a onda,
ao oceano mais profundo, assim sejam nossos gestos,
naturais e espontâneos, perante os demais.

Rude, porém, é o Homem, a precisar de ser talhado,
pelos ventos de Eliseu.

É que não basta querer, é preciso a acção,
construindo alicerces sólidos e precisos.

Deixar olhos na água, de volta às nossas raízes,
onde impera a verdade das coisas simples, e,
a mentira, não faz morada.

Sê para os outros o que queres que os outros sejam
para ti, sem fundamentalismos nem maus juízos,
que, sempre, se mostram precipitados.
Vive… e deixa viver!

Jorge Humberto
23/04/08

NA SINGELEZA DAS COISAS



Na suave temperança,
De uma chuva de Inverno,
No vidro e na lembrança,
No sonho, quando é terno,
É que fica a vontade,
De gritar ao mundo
Esta minha verdade:

Na grandeza de uma criança,
Na singeleza de uma flor,
Nos olhos sem desesperança,
No reconhecer ao amor,
O direito que lhe assiste,
A possibilidade de tudo
Ser só isso, porque existe.

Não mais que isso, porém,
Ao homem se lhe pede:
Uma flor que brotasse,
Num gesto, que já vingasse,
Tão simples como o respirar,
Como nada ser de ninguém
E tudo uma forma de amar.


Jorge Humberto
(24/01/2004)

BEM QUERER



Orquídeas, acácias, rosas do meu jardim,
Crisântemos, narcisos nascidos aqui,
Amor, bem querer, no querer-te assim,
Flor que viça e revisa dentro de mim.

São rios e cores, flores de jasmim,
Professos amores, sorrisos e alecrim,
Palhaço que salta em alto trampolim,
Salta que salta, pozinhos de perlimpimpim.

Vem que te quero, ai sim, ai sim,
Vem para junto de mim, em louco frenesim!
E deixa que te diga o que tem de si,
Este amor só nosso
Sem princípio, meio ou fim.

São palavras trocadas, e são felizes
Assim.


Jorge Humberto
(15:56/Abril/18/03)

SINTONIA

Meu pensamento dito
já não é meu pensamento
minha palavra assim
a outro pertence, que não a mim.

Minha razão só está comigo
se a digo com verdade
e assumo a diferença
de ajuizamento dos demais.

Meu sonho só tem limite
quando faço do sonho meu
senhor e da linguagem
a ilusão corrompida.

Minha alma tem muita coisa
o que ela contém e absorve
constantemente
sem preconceitos nem estigmas.

Minha canção é uma sinfonia
de elementos da natureza
só se dá por feliz
se me torno comprometido.

Minha paz é uma conjugação
de esforços
ditados pelos gestos
reforçados dos outros.

Jorge Humberto
24/02/10

CHOVE NA MINHA INFÂNCIA

Uma chuva miudinha cai sobre a noite
que nasceu cheia de cinzentos
a prolongar-se pelo rio a fora,
no seu caminho para o porto de escalada.

A lua está encoberta e as nuvens
não cessam a chuva que vai caindo sem parar
isto durante o dia todo, o que me deixou
com um certo tom nostálgico e saudosista.

Recordo meu tempo de infância banhando-me
neste mesmo rio que na altura pululava de peixe
e crustáceos que nós apanhávamos movendo
os pés na lama para eles saírem à nossa vista.

Belos tempos em que a chuva era bem-vinda
para nos acompanhar nas nossas brincadeiras
de criança, sempre pronta a inventar mil mundos
onde reinava a horizonte o arco-íris do nosso riso.

Hoje tudo é tão assim e sem graça, nada é puro
o suficiente para voltarmos à nossa juventude
perdida por entre o relógio imparável do tempo
que tem suas medidas bem concretas e enfadonhas.

Olho pela vidraça… rios de água escorrem por ela
abaixo e passando a mão para limpar a humidade
paro a observar que ainda chove a bem chover
e que a minha infância ficou perdida nalgum mar.

Jorge Humberto
23/02/10

PÂNICO NA MADEIRA

A pérola do Atlântico
sofreu grande mal
com pessoas em pânico
sem ter visto nada igual.

Os rios agora mar
invadiram a terra
não há semelhante par
sacudindo a serra.

Mortos há às dezenas
estradas soterradas
desalojados às centenas
em buscas erradas.

Um enorme contingente
partiu para ajudar
desde o continente
até à ilha insular.

Pessoas por seu lado
fogem das águas revoltas
e vê-se mais um afogado
na ribeira das portas.

Outros em isolamento
nada se sabe das gentes
aviões rasam o vento
bombeiros estão presentes.

Enorme rombo no jardim
das belas flores e animais
deixou tudo tão assim
gritos desesperados e ais.

Quantas mais mortes ainda
temos de contar
para que a serra linda
volte a funcionar.

Foi num repente de águas
que tudo se desmoronou
e ficam-nos as mágoas
pelo parente que se afogou.

Ah, bela ilha que desgraça
se abateu sobre ti
pessoas junto à praça
falam de teu fim.

Jorge Humberto
22/02/10

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


GERAÇÃO APÓS GERAÇÃO

Nascemos para pagar os erros dos outros
ninguém assume o que é em si e destrói
e fica-nos a asfixia de um passado recente
com o futuro a ser relegado para um presente

ausente que nada constrói pois estamos iludidos
com o resgatar do antigamente, onde erros
crassos foram cometidos como se um polvo
abraçasse a nossa única vontade de crescer.

Geração após geração temos de emendar a mão
toda a geração erra e deixa-nos por testemunho
o que a eles competia fazer, não fora o olhar para
trás sem grandes golpes de asa para chamar

a si as responsabilidades que lhes cabia em obrigação.
E assim por diante andamos atrás uns dos outros
para fazer singrar o que já cabia à muito se cada
geração assumisse seu papel de construtores da vida.

Jorge Humberto
19/02/10

NOS TEUS BRAÇOS

Corro para os teus braços
neles me aconchego e aninho
e meu corpo assim envolto
aquece , quando é das frias
madrugadas, que meu ser
ausente se sente sozinho.

Mas teus braços vêm para me
acalentar e não permitirão
que a vil sina de estar só, me
deixe ao relento da vida,
na desesperança do desalento
que meu ser frágil carrega.

Num longo abraço nos
perdemos e entre carícias e
sussurros dizes-me ao ouvido que
eu sou teu e tu és minha
(longas tranças no cabelo)
até que o amor nos separe.

Beijo-te os lábios, qual romã
doce, de romãzeira em flor
e tu devolves-me o beijo
e eu me confundo contigo
nas carícias trocadas
no cuidado a ter doravante.

E de mãos dadas e plenos de
amor caminhamos
nosso caminho, lado a lado
segredando horizontes azuis
mares admoestados
no sopro do búzio à beira mar.

Jorge Humberto
18/02/10

NA SINGELEZA DAS COISAS



Na suave temperança,
De uma chuva de Inverno,
No vidro e na lembrança,
No sonho, quando é terno,
É que fica a vontade,
De gritar ao mundo
Esta minha verdade:

Na grandeza de uma criança,
Na singeleza de uma flor,
Nos olhos sem desesperança,
No reconhecer ao amor,
O direito que lhe assiste,
A possibilidade de tudo
Ser só isso, porque existe.



Não mais que isso, porém,
Ao homem se lhe pede:

Uma flor que brotasse,
Num gesto, que já vingasse,
Tão simples como o respirar,
Como nada ser de ninguém
E tudo uma forma de amar.

Jorge Humberto
(24/01/2004)

AO SOL-POSTO


E bate leve uma leve brisa no rosto…
mais à frente ergue-se a montanha
e o teu beijo no meu sabe a mosto,
algo que ainda hoje em dia te acanha.

A horizonte devagar desce o sol-posto
e os sentimentos com que se amanha
a palavra dita com amor no encosto
do desejo guardado quando se assanha.

Somos dois seres únicos sem vaidades,
amamo-nos como se fossemos loucos…
e aqui não há nem justifica virilidades

quando somos uma só pessoa irmanada
no querer bem, bem-querer, aos poucos
pois somos uma personagem enamorada.

Jorge Humberto
17/02/10

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010


OUTRAS CANTIGAS

Já ninguém se preocupa com ninguém
nem que o coração tem nem o que à
alma vem

As pessoas passam sem sorrir
e vão no porvir que não tem para onde ir

Sãos mesquinhas até à sordidez
ninguém sabe o que fez dá-lhes a surdez

Um aperto de mão está fora de moda
já nem um mundo roda na altura da poda

A hipocrisia é o pão nosso de cada dia
é de boa serventia a quem da vida se desvia

Valha-nos as crianças e as flores
nunca se queixam de dores e a ninguém
devem favores

Isto está tudo num aperto
politica sem acerto comunhão sem alento

E reina a vaidade ostensiva
que de tão ofensiva se torna missiva

Dos pobres e dos loucos ninguém fala
a boca cala ante a iminente bala

Parecemos todos uns maltrapilhos
cuidando dos filhos como quem aperta o cilho

Tudo para uma boa aparência artificial
com a qual beneficiam até se darem mal

Dos velhos não querem nem saber
se lhes dá sede de beber se o que lhes resta
é uma vida a padecer

Às mulheres os maltratos
e usam de aparatos dizendo-se apenas chatos

Que a policia usa de vil conivência
para eles são só aparência porque não têm decência

E aqui está a cantiga dos meus ais
dos trabalhadores de cais até aos filhos de pais

Que nesta nova geração
hão-de trazer o condão de um bafejado coração

Jorge Humberto
16/02/10

NEVA NA CIDADE


Cai uma chuva tardia
e todas as flores se abrem
para receber a água divina
que cai dos céus como
num choro interminável.

Os insectos se protegem
o melhor que conseguem
indo esconder-se
nos caules das plantas e
nas suas folhas viscosas.

Pássaros levantam voo
à desgarrada
e é vê-los às centenas
migrarem para sul
em busca do sol perdido.

Atarefadas as pessoas
correm de um lado para o
outro, tentando fugir
da chuva que teima em cair
como frutos de uma árvore.

Com a chuva tardia veio o
vento e com o vento o frio
e uma pequena geada
abate-se sobre a cidade
cobrindo-a toda de branco.

Jorge Humberto
15/02/10

domingo, 14 de fevereiro de 2010


QUANDO CONTIGO ESTOU

Quando contigo estou
tudo à minha volta se vira
perfeito e inenarrável
tudo é assim tão suave
como se corresse livre uma
brisa no seu entardecer
tudo é bonito como um
botão de rosa abrindo-se
pelo sol da manhã
enquanto a horizonte o
rio se põe na graduação
das cores inseparáveis

Quando contigo estou
sou mais eu e tu o meu
caminho que percorro
pé ante pé sem tocar o chão
tudo se transforma
e são só jardins
que tenho diante de meus olhos
a natureza se funde
mostrando toda a sua beleza
e todos somos irmanados
no mais perfeito respeito
de uns para com os outros

Quando contigo estou
sou eu o amigo que te dá a mão
e se preza por ti
sou eu o companheiro
que te escuta em silêncio
sou eu o amante que te faz vibrar
de saudade e de desejo
e tudo é tão simples
como simples é o nosso amor
e tudo é tão precioso
para dizer a todo o mundo
que somos um no outro

Quando contigo estou
tudo é de uma perfeita harmonia
o céu se conjuga com o mar
o mar adiciona-se à terra
e nascem flores nos nossos olhos
que vamos depositar
no mais sagrado de nós
e tudo é tão eloquente
e tudo é tão eterno
que nada desvia o meu
caminho
quando contigo estou.

Jorge Humberto
14/02/10

NO TEU CAMINHO

Passo certo caminho
o teu caminho,
junto ao mar de outrora
que nos viu nascer.

Muitas são as primaveras
que já passaram por nós
e o mistério adensasse:
quanto mais há para amar?

Diria que tudo porque tu
estás em mim como eu em ti
numa dedicação que só os
de bem despertar conhecem.

Olhos limpos a horizonte
damos as mãos e trocamos
carícias tais que mais parecem
dois passarinhos a voar.

Tua tez bonita realça o mar
que desagua a meus pés
e me convida a ser em ti
o que tu és para mim.

Olhos de mel, de um fruto
radioso, enchem teu rosto
da mais pura alegria
que o róscido da madrugada tem.

Cabelos ao vento são esta
mesma brisa que sopra
de mansinho na minha face
trazendo segredos por desvendar.

Minha eterna enamorada
quando caminho teu caminho
sou um homem de sorte
por incessantemente te amar.

Jorge Humberto
09/02/10

AINDA AGORA



Ainda agora,
Enquanto lá fora o grilo
Se exibia, com machadadas
De anelos,
Me perguntava de quem
As poesias que
Da ampôla dos meus dedos,
Serviam construções,
Estradas paralelas,
Ou Zénites de ósculos vindoiros...

Ainda agora
Me perguntava,
E já o grilo calava,
O que na resposta
Não tardava:

As poesias
Não são nem minhas,
Que estas aqui
Que vos deixo,
Célere mó,
Ou dúctil apetrecho,
São já só este que vai só,
Tomando-as
Por puro pretexto.


Jorge Humberto
(14/08/2003)

AINDA FALANDO DO PASSADO


Em toda a minha vida, vivi rodeado
de gente falsa, incluindo supostas
namoradas, apenas de olho na droga,
que eu possuía e tinham tal como algo
adquirido, julgando que trocar sexo por
droga, a isso tudo se resumisse e eu
estivesse disposto a tal facto.

Mal sabiam elas, de meu forte carácter,
e, muitas das vezes, precisei de ser
rígido na palavra, para afastar esta gente,
de minha vida, que, diga-se, de nada valia,
mas respeito à minha pessoa exigia, pois
que não me vendia, como a um qualquer
prostituto, só porque tinha poder nas mãos.

Nunca aceitei, como moeda de troca, nada
que tivesse sido roubado, embora até
entendesse as suas e a minha miséria. Mas
para mim era ponto assente: dinheiro numa
das mãos, droga na outra. Muito sorriso
forçado, máscaras e outras ignominias, eram
o meu pão de cada dia, ansiando minha dose.

Mas as contas, que tinha de prestar aos
superiores, foram deixando seus resquícios,
de anos e anos, mantendo-me controlado,
mas só por fora, que dentro doía e consumia,
meu corpo enfraquecido, onde sol e noite,
já não distinguia, no fluxo e refluxo de gente,
apenas com o mesmo intuito e fútil conversa.

Então resolvi fugir, levando-lhes a droga toda,
já que o trabalho era todo meu. E, quando a
súplica se instalou, senti-me ofendido e
manietado: caminhei em direcção ao Norte.
Longe estava eu de imaginar, que, tão longe,
me viessem a descobrir. Tudo perdoaram, assim
voltasse a trabalhar pra eles: não mais! Disse…

Agora estava por minha conta, acabara-se as
facilidades. E o que antes rejeitava, pois foi
caminho, por onde tive de enveredar. O mais
é triste e infame, para que eu aqui relate, mas
de nada esqueço e com isso vivo até hoje.
Nunca bati em ninguém, seria o mesmo que
fazê-lo a minha mãe, mas muito mal cometi.

Jorge Humberto
21/09/08

AINDA INÉDITO



Ó arrogante, que queres tu, de mim,
Inédita presença, a minha porta? – Esmurrou!!!
Mas como, inexistente e original,
Supôs-se gente, que p’la casa entrou?
Inédita inépcia controvérsia!
Paro, para pensar:
Melhor fora ao espectro nem entrar,
Que aqui não são permitidos nem fantasmas
Nem exaltados, quanto muito
Uns quantos desalmados,
De características mui nobres,
Querendo partilhar da sopa dos pobres.

Ah, que queres tu, de mim, ó perverso,
Inconsequente acessório?
Digo-te que não tenho, material
Para o teu casório!
Quem sabe então,
Para tema de crónica, a advir,
Não optes tu pelo «aleatório»,
Que é melhor que nada
E sempre dá para cingir,
O ego quase…, quase a cair?

Mas o que me chateia sobremaneira,
São estas inéditas figuras:
Ainda vagando pelo não concebido
E já fazem tamanha chinfrineira!

Quão facilitado é o trabalho,
A quem escreve, no que vai pelo soalho!
Aqui sim, de inédito, têm pouco,
Limitando-se a pigarrear,
De tanto ofender, a outro.

Homessa! Não sabeis, que significa, inédito?
“Não publicado!; original!; obra
Ainda não publicada!...”
Inédia, de tudo que existe?
Deixa-me, ó criatura, púbere!
Psicose cerebral!
Não leves a mal,
Mas regurgito psicanalistas,
Se lhes dá para ser fantasistas,
Omitindo coração e humildade,
Que se fazem pagar p’la metade,
Do serviço por eles prestado,
Como se fora algo de complementado.

Digo-te, deixa-me em paz
E a meus amigos!
Se queres ter alguma utilidade,
Dar sustento à tua verdade,
Não seja por isso,
Há tua espera oito são os livros, de poesia,
Esperando pela luz do dia,
Juntemos-lhes uma gaveta cheiinha,
De uva sem grainha
E eis achado o significado,
De teu ser desencontrado.

– Espera!!!...
Não… não, agora não é contigo!
Falava com a Musa,
Sussurrando-me ao ouvido:

Poeta?!... dás-te conta, de que existo?! –
Disse-me, ela.
E eu, porque persisto?! –

Minha dúvida e sequela,
À afirmação, que foi dela.



Jorge Humberto
(27/05/2004)

ÁGUAS



Quem dera este azul
oceânico
fora meus olhos,
e que, buscando marítimos horizontes,
de vagas e de espumas crinalvas,
lá repousassem,
em ilha encontrada,
a eterna sabedoria.

Que ao homem a pertença
fosse já reconhecida.

E de rosto ao mar,
o que aos olhos é dado guardar,
soubesse ele,
em último gesto,
nas águas deixar
derradeiro latejar.



Jorge Humberto
(22:24/Maio/29/03)

AINDA O NOSSO JARDIM


Sândalos, crisântemos, jasmim e outras
belíssimas flores, tenho-as guardadas,
em lindos postais, numa recordação sem
fim, que sempre trazem até mim, tua
excelsa pessoa, sonho tornado realidade.

Todos esses postais, reflectem bem, flores
verdadeiras, que há medida, que o nosso
amor foi crescendo, desde inerme semente,
as jogámos à terra, criaram raiz profunda,
e ofereceram-nos, enfim, toda a sua beleza.

Hoje, não consigo desassociar, de nossas
pessoas, a bela criação, deste rico jardim,
que teve seu principio, desde o dia, em,
que, pedindo-te em namoro, disseste-me
que sim, e, o sol, refulgiu, diante de nós.

Não nos conhecíamos, que rosto teríamos,
mas as tuas palavras tranquilizadoras e
sinceras, logo tiveram tal impacto em mim,
que julguei conhecer-te, de há muitos anos,
e logo meu coração bateu forte, como nunca.

E assim permanecemos, como duas lindas
flores, respeitando seu espaço, mostrando
pétalas, ainda mais coloridas, quando reina
o silêncio ou indevida dúvida, que, por nós,
é rejeitada, pelo muito de bom que temos.

Jorge Humberto
20/12/08

AINDA O OUTONO


Dúctil, esquivo, persistente o sol
teima em dourar as manhãs, do
Outono chegado, inda faz pouco
tempo, no tempo corrido.

Posso testemunhar, que os dias,
já não são iguais, o frio tornou-se
quase diário e as noites, chegam
agora bem mais cedo.

Nisto as pessoas entram numa total
metamorfose: de manhã saem à rua,
de roupa levezinha, à tarde vestem
casacos, levantando a gola ao vento.

Sem aflição alguma, que se denote,
os passarinhos, às janelas, continuam
a cantar, chamando as fêmeas, que
se encontram mais à distância.

Em vão procuro alguma andorinha,
que se tenha atrasado, e que, por aqui,
tenha resolvido ficar, para que se possa
apreciar, seu voo majestoso.

Mas não! Partiram de vez! Aguardo a
primavera com calma, pois, todas as
estações, têm seu ciclo, que lhes é
devido.

Outono é um pastel, de um paisagista,
donde predominam os amarelos,
os castanhos e os vermelhos, e, os
jardins fenecem, em toda a sua cor e doces
fragrâncias.

Não mais o cheiro a terra… tardam as
chuvas! Só a hortelã persiste, por entre
as ervas daninhas, num grato olor,
invadindo nossos sentidos… e há um
louva-a-deus, estático, esperando sua
vitima, por entre o emaranhado de ervas.

Outono das mil e uma cores, que vieste
para ficar, certifica-te, que te engrandeces,
perante todos os que por ti passam,
de manhãzinha até à noite, trazendo-nos
a tranquilidade de teus dias, meio que pardos.

Jorge Humberto
26/10/08

ALGO NA MADRUGADA



Sossego o meu espanto.
Cai uma névoa fria, paralela ao rio,
Que se esconde detrás das luzes,
Violáceas ou amarelas, dependendo aqui
De qual a inflexão, ou de que silhueta nocturna
Estas já tomaram pra si.
O silêncio, que sei por lhe escutar
Do longe o ínfimo ruído, é na mente que o ponho,
Enquanto isso latejantes, os ouvidos
Se pronunciam, quiçá por excessiva capacidade
De armazenamento.
E um cansaço, que é mais de coisa sentida na carne,
Que cansaço, propriamente dito,
Diz-me das pernas como dos braços,
Uma sua inutilidade quase confrangedora.
Frio… nas mãos… e nos pés também.
Já o olhar não pede licença ao vidro,
E a janela faz-se de carros, de luzes
E baixos relevos, essencialmente.
Que farão os poetas acordados, a estas horas
Tão tardias, de uma gélida madrugada?
Loucos, apaixonados…
Ó peso na alma – e nos pulmões também,
Reclamando a falta do oxigénio,
Provocada pelo excessivo zelo do cigarro.
Agrido o cinzeiro e recrimino-me:
“Fumar traz a quem fuma incapacidades
Cardiovasculares…”, adentro… nos olhos…
Agressivas letras, garrafais.
É já completa a nébula, e o silêncio gradual,
Grita-me um último baque… em surdina…
Nos ouvidos… Pergunto-me:
Quem o que aqui, se disse à noite,
O louco e apaixonado,
Ou o que trouxe consigo, algo de restos diurnos,
A necessitarem de confidencialidade?
Finalmente a gaze…


Jorge Humberto
(12/12/2003)

AMANHECER A TEU LADO


Amanhecer a teu lado,
Ser afecto e sorriso,
Do teu sorriso acordado,
Repouso para teus olhos,
Pouso do teu beijo,
Mão que acalenta
E é da cor da magenta,
Como este sol que eu vejo,
Por sobre teus cabelos,
Caídos, quais novelos,
De seda ou de lã,
É para mim,
O reinventar duma manhã,
Aonde apenas coubesse
O que lá houvesse,
E fosses tu,
No teu despertar.


Jorge Humberto
(14/02/2004)

ACRÓSTICO A JOAQUIM MARQUES


Jovem cuja a idade não rouba discernimento
Omnipotente e omnipresente, para seus amigos
Alegria recatada, que nosso presente o faz lúcido
Queria um mundo mais justo e sua poesia o diz
Unificado com o amor, a natureza, beleza intrínseca
Identifica-se com a sinceridade que o rege
Manifestando-se em sábias palavras o seu carácter.

Magnificente personagem de nossa cultura
Altruísta até mais não e bom conselheiro
Raramente se expõe, pra além do necessário
Que hoje em dia, a poucos deve confiança
Urdindo com mãos de tecelão, mostra paciência
E não nega palavra a quem dela necessita
Saindo em defesa dos seus e de tudo o que acredita.

Jorge Humberto
04/09/08

ACRÓSTICO A NANCI LAURINO

Notável sentido de ajuda
Apartada de todo o mal
Negando-se à futilidade
Cresce linda e notável
Indomável ser da natureza

Ladeada de amor assim vive
Aspirando compreensão
Urdindo seu próprio destino
Rindo para não chorar
Intentando não mostrar aos seus
Nada que os possa entristecer
Obrigação de quem se preocupa
Jorge Humberto
17/07/08

PRESENÇA

No aconchego de teu sossego
dormito as horas tardias
sinto o calor de teu achego
e passam horas e ficam os dias.

Nos teus braços me enlaço
no teu pescoço deixo o beijo
e sinto o teu pequeno embaraço
que te faz tremer o queixo.

Pouso minha mão no teu ombro
aproximo-me devagarinho
e do nada esvoaça um lindo pombo
deixando para trás o nosso ninho.

Caminho para ti sorrateiramente
deixo que os ais se vão pelo ar
e meu corpo fica dormente
pelo desejo insano de te amar.

Abraçados já nos contemplamos
olhos nos olhos bem de frente
no mais profundo que julgamos
ser este amor por ser diferente.

E de mãos dadas percorremos jardins
saltamos pedras e rochedos
belos nardos, malmequeres e jasmins
para guardar os nossos segredos.

Jorge Humberto
13/02/10

TER-TE


Ter-te é o almejo do meu desejo.
É a minha maior ventura.
É o descobrir-me a cada instante
de um instante a sós comigo.

Ter-te é ser feliz e saber porque o sou.
É nas tardes silenciosas ouvir-te
dizer baixinho meu nome…
como se soletrasses algo divino.

Ter-te é complemento de dois espaços
vazios. É ter saudade a cada momento.
E assim então querer-te a meu lado
na juventude e na velhice bem vivida.

Ter-te é ser sublime a manhã quando
nasce. É do sol a luz, da lua a prata, do
mar as águas. É uma andorinha a voar
por sobre as nuvens que a sustentam.

Ter-te é rever-te no espelho e saber-te
aqui…. Profundo desejo que meu
coração comporta. É olharmo-nos nos
olhos e falarmos a uma só voz.

Ter-te é possuir a chave da felicidade.
É cantar-te em Sol maior a minha saudade.
Ter-te é acima de tudo dois corações
que se enleiam um no outro primorosamente.

Ter-te é ouvir do teu riso o choro do lamento.
E do lamento a vontade de sorrirmos a dois.
É confortar-te quando estás sozinha… porque
ter-te é a coisa mais bonita que me aconteceu.

Ter-te é ser solidário, companheiro, amigo
é o braço que enleia teu ombro quando triste.
Ter-te é sermos audazes nos nossos sonhos.
E fazermos deles uma realidade nua e crua.

Ter-te é tudo isto que aqui digo e muito mais.
É sentir-me viajar de mãos dadas… passeando
jardins contigo. Ter-te é não querer mais
do que ter-te para sempre a meu lado…

Jorge Humberto
11/02/10

PELA ORLA DO MAR


Através do mar, pela orla, caminho
teus passos na areia, silente
guardo o teu segredo nos meus
olhos a horizonte, aonde nascem
as manhãs mais prenhes de vida
a despontar na nossa pele salgada.

A espuma do mar vai apagando
todos os nossos vestígios, mas
escutando um búzio é de tua voz
o som que chega até mim como
uma andorinha que não se foi
com a primavera, no último ocaso.

Vislumbro-te à minha frente em
cada vai e vem das ondas cavalo
e te desenho perfeita no areal
pedrinha a pedrinha
até te formar corpo visível
por mim tão desejado como amado.

No céu azul teu rosto parece sorrir
de meu ser desajeitado que te traz
à lembrança, entre algas e espuma
conchas que o mar vai depositando
na areia, junto às minhas mãos
que te vão esculpindo, grão a grão.

E são os ventos marítimos e as gaivotas
que me acordam para a tua presença
e o marulhar das águas, um pouco mais ao
longe, traz-me rosas brancas tão brancas
como a areia do mar, com as quais eu
vou enfeitando o teu cabelo, doravante.

Minha eterna musa que deixas o teu quê
do porquê de ser assim para mim, algo
de divino e grandioso, que as águas levam
e trazem, conforme meu desejo mais
discreto, e que te saúdam senhora de meus
sonhos despertos a cada novo amanhecer.

Jorge Humberto
10/02/10

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010


UMA CASA UMA JANELA


Uma casa uma janela
defronte para o mar
a horizonte a manhã
de todas as manhãs
e nasce o sol
que irradia seus raios
primeiros nos meus
olhos rasos de água.

Uma cabana e um barco
amarrado a um poste
e o sol de todos os sóis
ilumina o casario
e a cadeira de balanço
molhada pelas águas
súbitas do mar
a perderem-se de vista.

No chão a roupa
mais a subtil sombra
no ar a brisa
de um corpo desnudo
que enfrenta o mar
mergulhando sua nudez
nas águas ávidas
de vida e contemplação.

E a vida passa passageira
junto aos umbrais da
janela aberta aos ventos
marítimos
que acariciam meu rosto
limpo de industrias
prenhe de dádivas e de uma
enorme devoção.

Uma casa uma janela
cortinados e bambinela….

Jorge Humberto
08/02/10

domingo, 7 de fevereiro de 2010


CANTO ESTE CANTO


Canto este canto
de encanto
enquanto
meu canto
for nosso.

Canto e danço
este remanso
com que amanso
e não me canso
de o cantar.

Junto à fogueira
queima na eira
a braseira
ou a lareira
de nosso amor.

Jorge Humberto
07/02/10

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


A TI FLOR



Na terra húmida,
Onde antes era um viço
Que lá germinava,
Do húmus trazido à superfície,
Que da flor já brotava,
O que na semente sobrava
Por encantamentos,
Que da poesia
É dada à Natureza,
Uma última vez,
Faltando-me na certeza
E aos joelhos o dispor,
Baixei até ti

E logo me fiz água
E te reguei em flor.



Jorge Humberto
(02:55/Maio/21/03)

A Uma Só Voz


Minha voz é a voz do povo
É a voz dos que não calam
E anunciam a liberdade
Na palavra gritada em cada esquina
De voz embargada pelo renovo

Minha voz é a força do homem
Que a mordaça não cala
De encontro ao focinho da palavra
Essa voz que a gritar diz
Novos rumos que nos consomem

À força de braços e de músculos
Faremos um novo porvir
Seremos assim uma só voz
Um só querer querer bem
Anunciando novos crepúsculos

Minha força é tanto maior
Quanto maior for o assentimento
De que o mundo é só nosso
Razão para além do grito
Encerrando na garganta o por maior

Minha voz é a voz do povo
E enquanto este não se calar
Enquanto ele tiver o que dizer
A uma só voz vou gritar
Tudo o que ainda sói aqui fazer-se - de novo

Jorge Humberto
01/04/06

A VELHA E SÁBIA ÁRVORE


Por entre as folhas, cheias de vida, daquela
pequena árvore que desde a infância meus
olhos leva a compasso uma estreita afeição
nasceu entre os dois, desde que nela subia.

Não há dia, em que, aberta a janela de meu
quarto, logo não a busque no cimo da idade
trazendo-a junto a mim para que esta união
nunca morra, fazendo do passado amanhãs.

Compreendendo, a minha solidão e o amor
que tu bem sabes longe eleges a esperança
em forma de novos ninhos, vida que cuidas
mostrando-me, que, todo o fim, é possível .

Jorge Humberto
21/04/09

A VERDADE DAS COISAS


Neste meu silêncio azul,
Onde o que constrói
É um rio que passa, as
Flores e as vontades também,
Dos homens de boa vontade,
Há a voz do que não reina,
Testemunha antiga de muitos
Mitos contraditórios e falsos
Testamentos.

E nem lhe importa o reino.
Se flores há, se corre o rio
Ou a vontade é do homem,
Porque quererá ele reinar então,
Não é o que há e corre,
O que, já correndo, constrói,
Ou do Homem, sua vontade,
Se a vontade é uma flor,
No rio que há, porque passa,
Passou e há-de passar,
Como coisa que está
E é e será e voltará a ser,
Porque a si própria se constrói,
De sua vontade,
Já no homem verdade?

Neste meu silêncio,
Onde o azul é todo este azul
Que há e o que não se vê,
Toda a voz é a voz primeira,
Do que, embora sem reino,
Sempre reinará.


Jorge Humberto
(18/04/2004)

A VEZ DA ROSA


Das cicatrizes eu farei flor,
Louco corcel,
À debandada no meu peito,
Ou, na orla do que for,
Persistente batel,
Das ondas
Tomando-lhes jeito.

Do que tive e perdi,
Saberei guardar sem dor,
Que o que me move,
Não tem qualquer rancor,
Principio, meio e fim,
De toda a palavra
Contendo amor.

No mais serei quem
Vai na vida a dizer,
Do semelhante sem desdém,
Todo este meu bem querer.


Jorge Humberto
((02/02/2004)

A VIDA CONTINUA


E assim, a vida prossegue…
comprometidos com o nosso caminho
e a lembrança de uma saudade. Que
não morre nem desfalece, mas atenuará,
à medida, que de nós próprios, formos
tomando consciência, que quem partiu,
serviu bem quem sempre bem lhe serviu.

Não quererá, a quem partiu, que sejamos
como ele em vida, somente, que, do bom
fruto colhido, que à terra primeiro foi
deitado, todo o nosso amor seja
representativo, pelo gesto altruísta, que
era dele, por nós legado.

O respeito tem-se em vida. Já que o choro
vem pela falta dessa continuação.
Quem estiver em paz consigo, em paz viverá,
com seus fantasmas.

Passam dias, primaveras e invernos…
e os riachos continuam ziguezagueando,
encosta abaixo, polindo, século após século,
os seixos e as madressilvas –
ao cimo, as fráguas escarpadas, sugerem
todas as possibilidades, agora que nos tornámos
mais fortes e decididos…. Suplantando-as!

E aquele pontinho de luz (novíssima estrela,
a refulgir no céu), anseia pelo nosso sorriso,
como quando éramos crianças, e, para tudo,
achávamos uma desculpa, mesmo perante
tamanho aglomerado, de deuses e de semi-deuses.

Nobreza é respeitar quem parte…. Seguindo
o sonho de quem fica!
Árvores, pomos, jardins, das mais variadas flores;
unidos terra e mar, com suas ondas cavalo;
céu e terra, fogo e ar, essência da vida, a reverberar;
todos os olores são vossos, a nós, cabe-nos ser
justos, subtraindo à lembrança, toda e qualquer dor.

Jorge Humberto
25/08/08

A VIRTUDE DA PACIÊNCIA


Porque é tão difícil, escutar os outros,
repetir-lhe as coisas, se necessário for,
sem ver aí maldade alguma ou
segundas intenções deliberadas,
para denegrir a pessoa, como quem
estamos dialogando?

Quem ama, a quem for, de verdade,
não brinca nunca com sentimentos alheios,
poderá até ser um pouco aéreo,
mas isso não diz em nada, que não tem
o devido cuidado, para com a pessoa amada.

É, sim, defeito, mas um defeito menor,
que não olvida nunca, de estar junto da
pessoa querida, quando ela mais precisa de nós,
para a ouvirmos e falarmos, o que julgamos melhor,
para a pessoa de nosso bem-querer.
Temos de tentar de ser mais complacentes e
flexíveis, pois todos nós temos nossos defeitos,
isso não diz dos gestos altruístas,
àquilo que somos na verdade, e de como nos
comportamos com os demais,
muito menos em tratando-se de pessoas, a
quem amamos, como à nossa própria vida.
Jorge Humberto
04/ 11/08

ABRIL NOVO



Escrevo como quem respira
Ou respiro como quem escreve.
E o poema vai por mim acima
Sem ter o dever de quem deve.

E é tão natural a minha escrita
Como inconformada e producente.
E se se aproxima a vil desdita,
Então eu sou a voz desta gente

Massacrada até ao tutano,
Omitida pelo poder estabelecido.
Mas que ainda assim segue lutando,
Por um mundo melhor a si devido.

Não concebo por isso a poesia castrada,
Pelo focinho açaimado da palavra.
E, antes ainda, de mais nada,
Ela é de todos e a ninguém trava,

O conhecimento de todo um povo,
Que não se revê nestes políticos.
O que eles querem é um Abril novo,
Para tirarem da tez, os apolíticos…

Jorge Humberto
08/08/07

ACTO CONTÍNUO



Quanto vale uma verdade?
Quanto amor
Pode conter uma mentira?
Se isto que sinto
É saudade,
Haja então a palavra
Que me fira,
E que de uma vez por todas
Esta se cale!


Jorge Humberto
(Abril/27/2003)

ADVERTÊNCIA



Se, a quem ler estas linhas
(Se é que alguém as lerá),
Não lhes achar sentido,
Pois que daí não virá fero mal,

Assim como na vida,
Existindo para ser vivida,

(E a razão, que dirá?),

Jorge Humberto
Portugal