Jorge Humberto

Nascido, numa aldeia Portuguesa, dos arredores de Lisboa,
de nome, Santa-Iria-de-Azóia, Jorge Humberto, filho único,
cedo mostrou, toda a sua sensibilidade, para as artes e apurado
sentido estético.
Nos estudos completou o 6º ano de escolaridade, indo depois
trabalhar para uma pequena oficina de automóveis, no aprendizado de pintor-auto.
A poesia surgiu num processo natural, de sua evolução,
enquanto homem. E, a meio a agruras e novos caminhos apresentados, foi sempre esta a sua forma de expressão de eleição.
Auto didacta e perfeccionista (um mal comum a todos os artistas), desenvolveu e criou, de raiz, 10 livros de poesia, trabalhando, actualmente, em mais 6, acumulando ainda
mais algumas boas centenas de folhas, com textos seus,
que esperam inertes, no fundo de três gavetas, a tão desejada e esperada edição, num país, onde apostar na cultura, é quase que crime, de lesa pátria.
Tendo participado em algumas antologias e e-books, tem alguns prémios, sendo o mais recente a Ordem de la Manzana,
prémio atribuído, na Argentina, aos poetas e escritores, destacados a cada ano.
A sua Ordem de la Manzana, data do ano, de 2009.
Sendo ainda de realçar, que Umberto Eco, também foi merecedor, de receber essa mesma Ordem, de la Manzana.
Do mais alto de mim fui poeta... insinuei-me ao homem...
E realizo-me a cada dia ser consciente de muitos.
Quis a lei que fosse Jorge e Humberto, por conjugação
De um facto, passados anos ainda me duvido...
Na orla do Tejo sou Lisboa... e no mar ao largo o que houver.
Eu não sei se escrevo o que penso se penso o que escrevo.
Tenho consciência que escrevo o que me dita a alma e que escrevo para os outros, como forma de lazer ou de pura reflexão.

Escrever é um acto de crescimento para o seu autor e é uma forma de valorizar a vida. Não sei porque escrevo mas sei porque devo escrever.

Menção Honrosa ao Poeta Jorge Humberto

Entrevista do poeta concedida ao grupo Amantes do Amor e da Amizade

Quem é Jorge Humberto?
R: Jorge Humberto sempre teve apetência para a arte,
através do desenho e da pintura. A meio a agruras da vida,
nunca deixou o amor pelo seu semelhante. Auto didata e perfeccionista,
sempre levou seu trabalho através da sabedoria e da humildade.

Em suas veias tem sangue poético hereditário ?
R: Não, sou o único poeta da família.

Como e quando você chegou até a poesia?
R: Cheguei à poesia quando estava num castelo em França,
e escrevi um poema, altas horas da noite, sobre a liberdade
que todo o Homem anseia.

Como surgiu sua primeira poesia e se ela foi feita em momento de emoção?
R: A resposta foi dada acima.

Qual o seu tema preferido ?
R: Não tenho um tema preferido, escrevo sobre tudo, mas como poeta,
que quer aliviar a solidão de muitos de meus leitores, tenho escrito de há tempos para cá, sobre o amor e reflexões e alguns poemas bucólicos.

É romântico ? Chora ao escrever?
R: Acho que sim, que sou romântico, mas os outros falarão disso melhor do que eu. Já chorei a escrever.

Qual sua religião?
R: Agnóstico


Um Ídolo?
R: Fernando Pessoa

Você lê muito? Qual seu autor preferido?
R: Leio todos os dias, quando me deito. Meu autor preferido é o que referi como ídolo.

Quais seus sonhos como poeta?
R:Ver meus poemas impressos em livros e que meus poemas
tragam algo de bom a quem me lê

Como e onde surgem suas inspirações?
R: Surgem naturalmente, através do que vejo, sinto e penso.


Você já escreveu algo que depois de divulgado tenha se arrependido?
R: Digamos que meu lado perfeccionista, já me levou a alterar alguns poemas originais. Mas depois de algumas poesias, em que lhes dei outro cunho, não achei por bem mexer, naquilo que nasce de nós, assim como nascem são meus versos, que divulgo.

Qual o filme que marcou você?
R:" Voando sobre um ninho de cucos/

Como é o amor para você?
R: O amor é dádiva, compreensão e um bem querer de um querer bem.


Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Prêmio conferido à Jorge Humberto em setembro de 2011

Cuidando dos Jardins

Cuidando dos Jardins
Jorge Humberto-2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

Poeta de Ouro mês de Novembro de 2011

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


GARDÉNIAS EM TEUS OLHOS

Gardénias em teus olhos;
leve brisa de folhas,
nas árvores;
o mar que se acalma, na
palma da mão;
vislumbre de jardins,
nascidos no agora raiz.

Sombras onde me deito;
teu corpo restrito,
ao pudor do silêncio;
só o vento, diz voz,
ou gorjeio de pássaro;
passos apressados,
na rua sito mais abaixo.

Teus dedos, finos como
marfim; sacudir de
cabelos, asas de corvo;
a despeito do amor
a excepção; livre
ambivalência, que nos
põe a nu e salvaguarda.

Ser-se, quem se é, no
precipício apelativo;
renegar ao amor, que se
fez sofrido mas inteiro;
tua boca, semi aberta, tem
o pecado mesmo ao lado –
encontrar-me-ás!

Jorge Humberto
30/01/11

À MINHA CASITA DE MADEIRA

No azul que vai nos azuis do céu,
é que eu tenho tudo que é meu,
esperanças que me são devidas,
e as vidas por mim já vividas.

Qual um pássaro que trouxesse,
pedacito do céu que lá houvesse,
um tracito quereria só para mim,
para desenhar uma casita enfim.

A horizonte iria buscar vasto mar,
para o jardim medrando banhar;
e as madeiras eram só recicladas,
com as fileiras mui bem aparadas.

O ocaso não era longe de onde sou,
tosco barco às minhas águas cismou,
à deriva boiava com sentido norte,
e eu e ele buscamos a mesma Sorte.

Nado sol lá estou eu a me madrugar;
remo em círculos sempre a aumentar,
a cadência dos braços; e na lonjura,
a casita que acabou co minha tortura.

Jorge Humberto
30/01/11

DÊEM-ME ROSAS BRANCAS

Ah, dêem-me Rosas!
Rosas brancas, a haver.
Daquelas Rosas,
onde outro não tenha ver.

E quero Rosas brancas,
se não as houver.
Quero tantas mas tantas,
venham elas, donde vier.

Quero banhar-me nelas,
contigo a meu lado.
Quanto mais forem elas,
menos pesado o meu fado.

Mas, ah, eu só quero Rosas
brancas! Assim como a neve.
Em que o tempo são prosas,
e à Natureza, nada se deve.

Jorge Humberto
29/01/11

sábado, 29 de janeiro de 2011


ILHAS DE CORAL

Era após era, heras crescem,
de forma consensual, na casa
da praia, junto ao mar, verde
coralino…

Há grandes línguas de areia,
formando ilhotas, que é de
facto onde se encontra o mar
de coral, ainda invicto…

Tudo é verde, até o belo céu,
que tem flamingos, cor de fogo,
voando em grandes concertos,
buscando rasos lagos…

Nessa casa habita um casal de
velhos pescadores, que agora
trabalha com artesanato, para
vender para fora: outras ilhas…

Mais próximas da civilização e
que eles transportam, em
barcos feitos de bambu, pois
tudo ali é artesanal e sério…

Em troca de sua Arte recebem
bens alimentícios, que guardam
em casas próprias, para a
ocasião, e, assim, nada lhes falta…

Na ilha maior, onde está a casa,
para além das heras, também
há palmeiras e flores indígenas,
aonde crescem e se reproduzem…

Animais temos os marinhos, as
aves migratórias, algumas araras,
tartarugas sem idade e macacos,
subindo e descendo, palmeiras…

Ah, nunca me havia dado conta, do
quanto estava perto, do paraíso,
nestas linhas com que alinhavo,
esta minha simples prosa poética.

Jorge Humberto
29/01/11

SE PENSO EXISTO

Se penso,
existo;
apenas
penso,
no que
existo.

É dado
obtido,
porque,
se me
sonho:
existido.

Existir;
imaginar
vida;
mais que
por se
buscar.

Assim sou
e insisto;
pensar
é existir:
e nisto,
persisto.

Quem pensa,
forma
ideia,
logo
em ideal,
se torna.

Mi vida
é pensar,
e existo:
não o fora,
como aos
outros,
chegar?

Jorge Humberto
28/01/11

PINTURA VIVA

Fragrâncias de magnólias,
no vão das escadas.
Ternos sabores a flores,
que tu lá deixaste;
repercutindo no ar e nas
janelas, enfeitadas de vasos.


Na rua jardins são memórias,
de teres lá estado;
colhendo coloridos enfeites,
que vais pôr em centros
de mesas (caem pétalas,
por sobre os bordados de rendas).

O sol brilha, no céu exterior –
a lembrar, teus olhos, ao longe.
E as esgarçadas nuvens,
os teus cabelos, dançando
leve brisa, que se expande,
para lá, daquele arvoredo.

És uma pintura viva; linda.
Tuas mãos, nas minhas, anseio –
não ser eu o mar, de todos os
enleios, para te pedir um
momento, um só momento,
quando a brisa, fosse nossa!

Jorge Humberto
28/01/11

UNS SÃO POETAS OUTROS ENFIM

Em tudo quanto escrevi,
só ao prezado leitor devi,
o acerto, da palavra –
que, como na terra, lavra,
e deita fora os excedentes,
cuidando das sementes.

Nunca fui, senão eu,
e no verso, o que era de meu;
aquele que diversificou,
no poema, o que lá deixou –
imaginação a aflorar
na folha querendo ficar.

Miles de folhas, dactilografei
(e, de mim mesmo, que sei?);
que sou o nada e o tudo,
neste imenso e verboso mundo.
E nada anseio e nada quero –
de sonhar, então me esmero.

Depois do livre pensamento,
e de ter o seu consentimento,
a mim me venço,
e já me pertenço,
logro então o que julgo saber,
e em rima ou não, sói escrever.

Não sou poeta de um só “tema”,
tudo pois tem seu “dilema”.
Mais afirmo, que poeta
de uma só “filial, não tem espoleta,
prata explosão,
nem golpe de asa, mais à mão.

Escreve por repetição.
Oh, tamanha desilusão!
Já está tão viciado,
o pobre desgraçado,
que se torna artificial,
como se fora um desgastado ramal.

Jorge Humberto
27/01/11

CORPOS JAZEM SEM IDADE


Flores de aço crescem na cidade;
corpos sitiados jazem sem idade;
e os vis corruptos, fogem ilesos,
sem sequer nunca serem presos.

E não lhes comove a dor do povo,
exigindo respeito, num país novo;
refugiam-se em uma ilha sem leis,
para que, meus filhos, aí proteleis.

E a prole, mantém-se no governo,
num insulto, de malo desgoverno.
Só que as flores que ainda restam,
de novo, na rua, lutam, protestam.

E as bancadas do hemiciclo uma a
uma, de crápulas não mais presta
vassalagem, a nenhuns bandidos,
que de jovens, são uns assassinos.

Jorge Humberto
27/01/11

À revolta do povo na Tunísia

CAVALO EM LIBERDADE


Descendo das vastas
planícies,
suas raízes,
espantoso garanhão,
negro
luzidio,
tamanho coração,
veio parar
a uma aldeia,
para pasmo
do povo,
que
nem em novo,
se lembra,
de animal,
assim, tão
maravilhoso.


Crina esbelta,
ao vento
e ao relento,
escoiceou
no ar,
pois nunca ninguém,
o domou,
e assim continuaria,
embora
o tentassem,
com engenho,
cobrir-lhe
o liberto cenho,
mas de patas
erguidas,
maneiras,
não havia.


Só uma menina,
de intentar,
conseguiu montar,
o agora seu,
belo cavalo,
e como o
entendeu,
galoparam,
de novo,
para as planícies,
a perder-se,
entre ervas,
a submeter-se,
à fúria do garanhão,
(a liberdade,
que lhe é
por direito).


Jorge Humberto
26/01/11

SERENO

Em minha vida mil namoradas tive,
má sorte, que para a aventura vivi;
só no sonho, sonhado é que retive,
que não era sonho, o quanto perdi.

Muitas lágrimas então fiz derramar,
dessas belas moças tão carenciadas
e humildes; que quem devia chorar,
era eu, por não havê-las, mitigadas.

Ah, mas eu, queria era possuir-me,
ter o Mundo a meus pés, sem dano,
entrar no mar, e na água sentir-me,
e com ela lutar, nas ondas, lutando.

Assim pla Natureza nasceu meu ser,
falando às coisas, que, ninguém liga,
observando com mis mãos de tecer,
que, aqui, não há, nenhuma intriga.

Na casa dos «enta», mui mais nobre,
a Natureza, pregou-me uma partida;
(tudo o que desce, também o sobe);
e presenteou-me uma bela rapariga.

Ao contrário do passado que olvido,
esta linda Mulher, é o meu absinto;
embora seja abstémio, dela devido,
é minha esperança, assim pressinto.

Jorge Humberto
26/01/11

terça-feira, 25 de janeiro de 2011



SOU O OUTRO

Eu, não sou eu,
sou o outro,
nado morto,
para as leis,
sem leis,
nem Razão,
desta
civilização.

Vago mudo,
no deserto,
tão perto
e tão longe,
de cosa alguma,
oiço o grito,
que não contém
atrito.

Doenças,
vidas,
sofismas,
perturbações
na mente
e no corpo,
o aleijadinho,
anda torto.

Não me pena,
é mais audaz
e capaz,
do que eu,
que lastimo,
este olhar,
que em mentira,
sói sonhar.

Ah, e a gente!
atrás deixou,
o que lá ficou,
e num golpe
de asa,
é sonho,
que ponho
há Sorte.

Jorge Humberto
25/01/11

TENHO UMA FLOR NO CORAÇÃO

Tenho uma flor no coração,
toda ela é feita de emoção,
para os namorados ofertar,
quando decidirem passear.

Mais ainda anchos sorrisos,
pra os que são tão precisos,
por ser a sua timidez maior,
e os faz sentirem-se menor.

Não incito o beijo de beijar,
que isso é coisa aqui a achar,
quando de mãos dadas, a rir,
cruzam olhares de querer ir.

Ir lábios nos lábios a florear
um novo jardim, um pomar,
até à consumação (a final),
comigo noutra longitudinal.

Parecem crianças a brincar,
bola de cá para lá a saltitar,
e, eu, que sou velho, tenho
rugas mas sei ao que venho.

Também eu roubei um beijo
à mi Musa e não me queixo,
o tanto que ela me ofereceu:
o que era dela a mim mo deu.

Tenho sementes aos molhos,
raízes na terra sem escolhos,
para ensinar, os mais moços,
que no fundo estão os poços.

E, a humildade, é importante,
como o respeito é significante
para que dois jovens, juntem
os trapinhos e em duo lutem.

Esta flor vos dou pois é de paz…
ao poeta não há perdão capaz,
de recuperar a sua amadíssima,
que sua Virgem, seja altíssima.

Jorge Humberto
25/01/11

CORAÇÃO VADIO


Desolado coração,
que sequer Razão
tens pra tristezas,
buscando certezas,

de versejar vadio
(lá onde está o rio,
e tu és tu sozinho,
no estro caminho),

porque teimas já,
se sempre haverá,
amor desse amor,
se teu, sem favor?

Porém, virá o dia,
onde a sã alegria,
volverá pesadelo,
a deixar de tê-lo.

Bem que mereço,
pagar eu tal preço,
se, como amada,
saudade só é nada.

O medo da doença
é falto de valença,
que espírito cobre,
a alma assim pobre.

Sem que suspeites,
o sorriso lo deiteis,
no meu são sonhar,
quando caminhar,

sem caminho certo,
nem longe ou perto,
do que reste de mim,
pois, é tudo, para ti.

Jorge Humberto
24/01/11

VERSOS À LIBERDADE





Este que vos escreve,
não é o que vos
escrevendo, deixa em
linhas, versos
dispersos,
na folha rubra,
de um Oceano
de puros sentimentos,
que, de tão puros,
temo, às vezes,
não serem entendidos.





Sou muito de mim,
penso, repenso,
o que acho que deva
escrever,
sem submeter,
a palavra
dita e escrita,
ao mínimo
que lhe é por direito,
a liberdade,
de se expressar.





Mas se o algoz vier,
inquisição,
esquinas dobradas,
mais hei-de escrever,
sem ofender,
que o pão não falte,
nem a palavra
nem o direito,
de trabalhar
com as cruas mãos,
do grito, Liberdade.





Jorge Humberto
23/01/11

DILEMA DE POETA

Eterno dilema,
escrever,
ser correspondido,
nem no cinema,
se é
tão atendido,

é poeta no céu,
com que se cobre,
na sua humildade,
sem escarcéu,
com
precariedade.

Os poetas que são
poetas,
morrem novos,
tamanha emoção,
devotados
aos “povos”.

É precária,
esta vida,
vive-se o inverso
da destinatária,
que a vida
nos teve como verso.

Porque ser poeta
é fado é dom,
a que fugir não se
pode (espoleta,
explosão),
quem sabe que?

Jorge Humberto
22/01/11

SE ME VENÇO?

Se eu me venço,
ao cansaço
que me sobrevém,
a quem pertenço,
quando
sou de ninguém?

Se nem devido
eu sou
(ingrato mundo),
ao que envido
à minha Sorte,
porque infecundo?

Não há, de haver,
um sonho,
que sonhasse,
sem nem o querer
sonhar,
que logo o negasse.

É que o vão poeta,
que há em mim,
olvidou como sonhar,
é prata, espoleta,
explosão,
pronta a deflagrar.

Não é cómodo,
além-mar,
ver o horizonte,
diria incómodo,
frágil,
regredir no monte.

Acho que adoeci:
é isso.
E me estranho.
Ou será que menti,
no verso,
que agora amanho?

Jorge Humberto
22/01/11

SIGO UMA VIAGEM SEM FIM

Sigo uma viagem sem fim
nem sequer apeadeiro –
levo na noite um luzeiro,
que mostre partes de mim.

Uma perna um farto braço,
gesticulando impropérios,
derrubando vãos impérios,
com todo o meu embaraço.

Ouço bem perto a corrente,
de um rio bêbado de força –
e olhos de vidro duma corça,
sai do mato, num repente.

Longe vaia o corrediço susto,
que apesar do sol se mostrar,
fraco, fraquinho, a motejar,
inda vai a lua – inchado busto.

Mas eis a horizonte nado sol,
a aquecer-me os esqueletos:
é que não trago documentos,
digo-o baixo, ao lento caracol.

Vagabundo não precisa! Ora!
Nem falta pesará a ninguém!
Poeta é este, aquele, alguém,
coisas banais não são demora.

Assim sigo meu caminho meio
à Natureza e às fontes frescas –
belas moças trazem suas cestas
à cabeça e vejo um fugidio seio.

E é tudo tão natural que eu me
encho de preceito e de conserto,
cala-se a voz, em lance de acerto,
deixo fluir as coisas… e se… e se.

Começo a namorar uma menina,
recito-lhe fulgurante um poema –
o que procuro não são diademas,
mas o quê desta inquietude felina.

Jorge Humberto
21/01/11

A BÍBLIA E SUAS ESTÓRIAS


Na Bíblia busquei,
o que lá busquei,
busquei factos
e eram relatos,

cheios de emoção,
falando ao coração
das pobres gentes,
vivendo carentes.

A cada decénio,
a cada milénio,
novas escrituras,
novas estruturas,

eram adicionadas
às Bíblias Sagradas.
Pelos estudiosos,
doutos Grandiosos,

com novas ideias
sobre Divinas Ceias,
ou Cristo na cruz
e o menino Jesus.

Cada um escrevia,
da noite para o dia,
reinventando tudo:
este e outro Mundo.

Tantas as versões,
são agora condições,
de Novos e Velhos,
Testamentos relhos.

No fim, para dizer,
que a Bíblia, querer
não tem nem nada:
estórias contadas:

de boca em boca
(se a gente anda louca?),
claro que sim – digo,
não contem comigo!

Jorge Humberto
21/01/11

O LOUCO

O louco saiu à rua,
para ver, se a lua,
tinha cães a ladrar
entre escombros,
de mil assombros,
prá alvura a medrar.

Pareceu ofendido,
o louco descabido,
numa noite assim,
entre fantasmas,
e outros plasmas,
uma lua sem ter fim.

Julgando má Sorte,
ao pelo deu corte,
ficando aí careca;
e a perder a noite,
o frio como açoite,
apontou a Meca.

Rezou baixinho
(estava sozinho),
inaudíveis preces,
que, as pupilas,
ao então senti-las,
de fôlego carece.

(Um segundo louco,
passando à pouco,
sem deixar presença).
Depois de muito orar,
e, de resposta, achar,
findou sua sentença.

A lua, aziaga não é,
da janela ao rodapé,
emana seu clarão,
dando vida à semente,
e à gente diferente,
que pisa neste chão.

Jorge Humberto
20/01/11

EU E MEUS OUTROS EUS

Meus «eus», quando diversos,
de sonharem-se são dispersos,
dizem «sim» e «não» os loucos,
fúteis eruditos, como poucos.

Já que por vezes são irascíveis,
não há no mundo impossíveis,
e parto espelhos, e cinzeiros,
gatos pretos, miles reposteiros.

E este meu ser, sempre febril,
dá-se mal, com os ares de Abril,
em que o pólen serena no ar,
diria: só e só para me contrariar.

Sou um em muitos a me pensar,
duplo ser, que preferiria sonhar,
aí, debaixo dessa árvore carnuda,
e que, minha boca, fosse já muda.

Mas, que faço eu, com a poesia?
Ao poeta, sua Sorte não lhe fugia,
mesmo que quisesse outra coisa
ser, no seu dia: ele já é essa coisa.

Então retomo com os meus Entes,
todos eles em si muito diferentes,
personalidades fortes, ou frágeis,
cabe a mim moldá-los: as imagens.

Sempre um verso, que escrever,
na esperança que outros o vão ler,
e quer gostem ou não gostem nada,
deixem sinal da sua breve passada.

Não! Não me dêem vinho, a beber!
Quero estar lúcido, ao escrever!
Que do passado, que foi tão só meu,
a muitos, pai e mãe, entristeceu.

Este é o Fado de um poeta, versar
sem parar, a nos seus leitores pensar,
como se fosse para si o que rima
na folha, quando este, enfim, se atina.

Jorge Humberto
19/01/11

POEMA MULHER

Unhas rosáceas
corpo femíneo,
cativa de meus
sonhos lindos,
quando te vejo
na manhãzinha
ensolarada não
vejo nem quem
eu sou
não vejo nada,
só o teu quadril
de Mulher.

Tua pele é alva
asas no cabelo
e teus olhos,
cor do mel
(sorriso que já
perdura, inda
o instante
vem lá longe,
caminhando
meus passos
na ânsia de
chegar-me a
ti), são mares
reflectindo a
luz do sol.

Jorge Humberto
19/01/11

UM JARDIM COMEMORANDO A PAZ

Subo ao mais alto de mim,
e não gosto, do que vejo,
de um descuidado jardim,
fica-me o pensar: prevejo.

Flores que como eu, o viço
a puir, na liça com o vento,
acharam-me vão e magriço,
toquei-lhes, foi-se o alento.

Deitei mãos, à douta terra,
começando tudo de novo,
enquanto lá fora, a guerra,
levou consigo todo o povo.

Se bem pensei, melhor fiz,
e um belo jardim, jardinei,
pintando a pedaços de giz,
alegres cultivos que cultivei.

Nardos, girassóis e jasmins,
têm agora terra amanhada,
onde criar raiz – alecrins
brotarão por entre a chuvada.

E quando vierem os soldados,
das lutas, que lá batalharam,
dormirão muito sossegados,
junto às flores, que adularam.

Então serei menos exigente,
para com a minha pessoa…
serei sim alegre e contente,
que a paz vai lá fora: e ressoa.

Jorge Humberto
18/01/11

FAZE OUTRO DE TI





Aqui, aonde desce até mim,
o meu eu acontecido,
não sou mais que aparecido,
do que vai de mim até mim.





Se me conheço, sou espanto,
como um rio sem ter correr…
águas paradas, do meu ser,
que no cais, deixo entretanto.





Construo barcos à semelhança
de outros barcos, na maresia –
nasce o sol ou cai o dia,
meus barcos sem esperança.





Galgar ondas, ir na espuma
do mar; ser pleno movimento,
um braço em anuimento,
baixando a mão até à escuma.





Mas irreal eu sou, proscrito!
no pensamento e na Razão.
O que verso – será emoção?
Ah!, nunca por nunca, contrito!





Em sonhos me sonhei outros
«eus», não o que vos escreve,
pareciam uma resenha breve,
e eram todos, pouco doutos.





Julguei que assim estava bem,
àquele que vos apresenta,
em cores, da cor da magenta,
e não muda a vida de ninguém.





Mas, se sou aqui, aparecido,
meu ser terá alguma nobreza
(meus pais, com certeza!),
e hei-de fiar, outro ser nascido.





Entanto vou por aí a sonhar,
enquanto a imaginação quiser –
se está guardado a quem houver
sonhar, abre-se de par em par.





Jorge Humberto
18/01/11

É ALZHEIMER PAI

Caiu sobre nós a desgraça,
vil, atroz, assentou praça –
roubando-nos o descanso,
e o gesto, sereno e manso.

Alzheimer é, em seu início:
disse-o a médica plo orifício
dos óculos, de lente larga,
comigo e a mãe, à ilharga.

Aceitamos como evidência,
e às mãos da douta ciência,
entregamos o querido pai,
que por ora de casa não sai.

A medicina traz-lhe epilepsia
junto com tremuras dia a dia,
desfalecimentos abruptos,
que os veios estão corruptos.

O melhor será ida ao hospital,
para que tratem do pai afinal –
por mais cuidados que hajam
melhor que nós outros reajam.

Difícil vê-lo, pai, aí, tão doído,
sem reacção, demais sofrido,
e deixo vaguear a imaginação,
vendo-te passear qual alazão.

Volta, para nós, pai, peço-te!
Eu sei que és forte, conheço-te!
E nada te vencerá – o destino,
se nosso fado, só o é em menino.

Jorge Humberto
17/01/11

ALDEIA PERDIDA

Desce do monte, mais e mais,
um frio a baixar e à sua Razão.
Entorpece pessoas e animais,
perdendo os corpos sensação.

No baixo vale, aí ele perdura,
e, as gentes, acostumaram-se,
co o frio, que é de muita dura,
por isso bem alimentaram-se.

É tal a rudeza, que gela os rios,
circundando as inertes aldeias.
Só às crianças não vêem os frios,
preocupadas com umas asneias.

Ainda assim a populaça é forte,
e nisto os homens talham lenho,
e, as mulheres, de lavar, no pote,
levam as roupas, alto tamanho.

Um nevoeiro forma grande bola,
lá bem no profundo, do monte.
Parece desaparecida vã aldeola,
que, não sei, se no verso, conte.

Mas a Natureza é mui generosa,
e com o avançar do ritual do dia,
o sol teima em romper a nebulosa,
dando aos aldeões, rara alegria.

Na teima insistiu e ganhou o Rei,
nosso Astro; dizimando a nébula,
de fio a pavio; assim dita a Lei,
quando a mão é fraca e trémula.

Agora já se vê o nevoeiro a subir,
por onde antes desceu temerário:
o que cai, também tem seu porvir,
que o que nos cuida não é ordinário.

Pois que a Mãe de toda a Essência,
vela por nós, homens e mulheres,
crianças e velhos, na sua sã anuência:
vede bem: sede aqui o que quiseres.

Jorge Humberto
17/01/11

domingo, 16 de janeiro de 2011


POETA E LEITORES

Para se ser poeta, há que ser
diverso, no Tema a abranger…
poeta, que é poeta, não fala
de uma coisa só; come e cala.

Tem de se superar… e viajar
nos Mundos; a girar, a girar.
Até que, a fértil imaginação,
providencie a pluma e a mão.

No nado pensamento, desce,
de nós, para nós, o que cresce,
como num jardim a florescer,
o que, enfim, iremos escrever.

De nós, para os outros, ciência.
Dos outros, para nós, anuência.
É como um pacto civilizado,
onde ninguém sai traumatizado.

De tudo é imperioso, aqui ler,
pois toda a poesia tem seu saber.
Confinar-nos à fútil estreiteza,
não nos cercará, de esperteza.

Mas, enfim, para tudo há gostos,
cabe ao poeta do vinho ser mostos,
e chamar a si, os fugidios leitores,
nossos Mestres e ainda Mentores.

E quando a união fizer uma fricção,
nascerá, dessa perfeita, junção,
a aliança mais concreta e logo ungida,
que, durará, para toda uma vida.

Jorge Humberto
16/01/11

VIDAS DE PESCADOR


O navio já não volta ao cais,
que já não existe para mais
nada; terra de assombros
e de mil e um escombros.

Há saudosos pescadores,
de mãos severas e às dores,
que foi a vida ao mar a sair,
para no fim peixe repartir.

Tinham na pele o sal do mar,
cobre e alva brancura, no ar:
na força da juventude, à ré,
devotavam vidas, à Santa fé.

Muitas lágrimas, lá ficaram,
por entre ondas, ajuizaram,
a pouca sorte que lhes levou:
quem, a família, sustentou.

Mas o trabalho prosseguia,
e, inda mal, raiava novo dia,
lançados os barcos às águas,
silenciosos, calavam mágoas,

e, remavam, a alto Oceano…
a remar, remos, mano a mano,
rapidamente desapareciam –
na manhã do outro dia se viam.

Então a alegria não continha,
ver os bravos, dar à Prainha,
com as redes cheias de peixe:
oh, minha vizinha: deixe, deixe!

E todos puxavam os batéis
com ritmo, ingerindo pastéis,
tenrinhos, da terrinha do mar,
e aí mesmo, o peixe amanhar.

É uma vida de luta e entrega,
feita por homens, de regra,
que amam o que fazem, o mar,
até que este os resolva levar.

Jorge Humberto
15/01/11

FLOR QUEIMADA II

Hoje, estou deveras contente.
Em verdade, nada mudou.
Este estar assim, de repente,
é porque o verso, no verso rimou.

A poesia, é por isso, inconstante.
Não que falsei, no quanto escreve,
mas porque ainda vem distante,
o que ela, a quem versa, bem deve.

Passa um navio: vai de viagem,
para uma qualquer ilha, a se perder.
Quando petiz, gostava de canoagem,
como estou feliz, importa o dever.

Não; não quero vinho! Para festejar!
Que a minha boca é seca, ao pecado.
Ao néctar, dos deuses, irei pois olvidar,
agradecendo, que sou bem-educado.

A tarde está fria; cai pungente, no rio.
Um pouco mais longe, nutrido nevoeiro,
às aldeias esquecidas, e atadas com lio,
gretam os lábios das pessoas, com cieiro.

Então uma leve tristeza, se assoma de mim:
eu que estava tão contente, e assas feliz.
Estou infausto nesta hora; e eu, porque vim?
Choram sentidas as flores, do meu jardim.

Tudo tem sua Razão de ser; vi na televisão!
Criança subnutrida, em flor queimada mexia.
Era seu único jogo: nas mãos deu-se a explosão,
e, o menino, tripas no chão, sua voz gemia.

Jaz e arrefece o menino, por todos abandonado.
Tudo por obra destas guerras, que não cessam,
e deixam, ao acaso, engenhos, não cuidados,
por obra e mão de peritos, que não se revezam.

Como posso continuar contente?
Como? Como?... Quem mo dirá?
Se há coisa que não sou é aparente –
muito menos, o verso se subverterá!

Jorge Humberto
15/01/11

VERSOS DE MIM E DE MIM

Se me olho ao espelho,
tenho nojo de mim,
por estar mais velho,
sem um gozo de alecrim.

Meu ser desajeitado,
não sabe que é dormir,
vira-se, de lado a lado,
sem ter para onde ir.

O sol fere-me a pele,
branca, como não há,
e tudo me impele,
a imaginar o que será.

Uma janela aberta
e uma cortina corrida,
é a paisagem coberta,
que é a minha vida.

Faço versos por dentro,
com a imaginação,
usando o pensamento,
calando o coração.

Alma, é aquela coisa,
que invade a emoção,
parte-se a rica loiça,
juntam-se cacos no chão.

Pensar faz doer à cabeça,
não pensar, é bem pior.
Haja quem ainda teça,
com o que tem de melhor.

Enfim sonhar, só sonhar,
que a sonhar me conheço.
Versos pobres a lembrar,
só aos leitores pertenço.

Jorge Humberto
14/01/11

AMOR SEM BARREIRAS


Gostaria que não me soubesses doente,
que eu só estivesse triste ou contente,
e raiasse o dia lá fora, pousando asas no rio,
como borboletas de cores, sem haver frio.

E tu continuarias o rito, de tuas Novenas,
entregue à tua fé, que não tem mecenas,
senão uma infalível crença, desde menina,
que te trouxe pela vida fora, tão pequenina.

Ao bom Velhinho, prometes coisas sem par
(assim o tenho, na imaginação, se sou sonhar),
às crianças e aos velhinhos, nunca esqueces,
que são os primeiros, a quem pedes benesses.

E como eu estaria saudável, colheria flores
lindas, que, aos sentidos, causam torpores
na alma; com as flores, iria o meu coração,
que, só por ti, estariam em eterna floração.

Correríamos, montes e vales e alguns prados,
co navios no mar, que, vistos, nos fossem dados;
mil aventuras teríamos – um beijo a colorir,
se mágoas tivéssemos aqui, com que carpir.

Sem ver, ver, para além de crer. Sonho. Ilusão.
Quem a Sorte nos dá, e, a nós, a falsa sensação?
Tudo é certo ou errado, desleal testamentário…
mais vale a comicidade, um Teatro fútil e Hilário!

Bem sei, amada Mulher, que somos diferentes!
Em anos que já lá vão, nunca por nunca ausentes!
A crença, que é tua, a mim me escapa, e tolhe –
só a fé no Homem, inda que em erro, mi vida escolhe.

Desleal, ao que são meus sentimentos, a aflorar,
por ti, tudo esqueci, e deixei-me, em flor amar…
Se me arrependo? Nunca… em vidas por haver.
Tu me pertences. Eu te pertenço. Eis o nosso ser.

Jorge Humberto
14/01/11

LÁGRIMAS SEM IGUAL

Cais à chuva, vazios,
barcos tresloucados,
quem os viu em rios,
por mestres navegados?

Agora só assombros,
à mistura, algum sal,
tudo são escombros,
lágrimas sem igual.

O rio passa de largo,
o mar tem distância,
mas porque estrago,
esta bela exuberância?

Ao longe, por sonhar,
nas tardes que me passeio,
vejo um ponto no mar,
será barco? Ou enleio?

Era um barco fumegante,
no ar, rastro deixando;
imaginei-o todo possante,
no mar, sulcos visando.

Mas aqui só madeira velha,
que ainda assim me encanta…
não só é velha como gelha,
nasce a seus pés, nova planta.

Entardeceu rapidamente;
vão-se os pássaros de meu ser;
quem dera aqui perdidamente,
sonhar um novo Cais a haver.

Jorge Humberto
13/01/11

NEVOEIRO


Nado, posto por sobre o rio,
um nevoeiro de intenso frio,
sobe as águas, até à cidade,
como num grito de liberdade.

Se a Natureza o dita, nada há
que a impeça: sabemo-lo já!
É que dos deuses, a restrita lei,
de ao povo, a plebe: aqui del Rei.

Fogueiam-se fogos em latas;
vagabundos, enegrecem beatas,
para enganar seu triste fadário –
à distância, oculto, trina o canário.

Casas baixinhas, da baixa Lisboa,
privadas de calor, na Madragoa,
são feitas de estuque e velha pedra,
aonde nem a erva, sequer medra.

De soslaio, de parte, o eu versejar,
reparei, que o nevoeiro, é avançar,
eloquente sem excepção ou franca
fraqueza; e a nébula é tanta, tanta…

Nunca vi nada assim, por mi Sorte!
Pudesse, chamar-lhe-ia, a vil morte!
Aquela que, nunca se deixa prever,
e só no breve instante o quem de ser.

Como esta cortina cerrada e friorenta,
vinda do rio e da floresta, nevoenta,
que não nos deixa ver um palmo de testa,
por mais que perscrute: ao Ver não atesta.

Só tenho pena dos pobrezinhos, sem
tecto, que os acolha; não têm ninguém,
fugiu-lhes a Sorte, junto com a nébula –
bebem café quente, com a mão trémula.

Vai-te, nevoeiro! Espera-te o calmo rio!
Deixa-nos, já basta! E leva o teu frio!
Escrevo à beira mágoa, os meus versos…
escrevo; em nome, de tantos servos.

Jorge Humberto
13/01/11

SONHO ESPERA POR MIM


Dormi,
sonhei.
Sonho vivi
ou olvidei?

O que dói
de meu,
sói
ser eu.

Não é pena,
a dor doída.
Dilema?
Flor caída?

Como um sonho,
que tivesse –
e o entressonho,
já amanhece.

Já não durmo;
de sonhar
faço turno.
(Verei o mar?).

O mar,
deixa-se ver,
de sonhar,
imenso querer.

Sei, entanto,
que me perdi,
o quanto,
já fui aqui.

Estou doente;
ah, fraca carne!
serei contente,
vai-te sem alarde!

Sonho,
espera por mim!
Sonho,
ergo-te um jardim!

Jorge Humberto
12/01/11

CARTA DE AMOR


Lá aonde a praia se encontra com o mar,
e o sol é de amarelos e de louros,
algas inertes vão dar à praia, paradas;
e, como um possesso, ponho-me a guardar,
meus sonhos – por sonhar – meus tesouros –
serão ricos, serão pobres: Virgens Sagradas!

Não preciso de nenhuma gruta, para disfarçar
minhas doutas riquezas; como os Mouros,
quando faziam das Rainhas, suas empregadas.
E se necessário for, me porei toda a noite a velar,
descalçando as botas, feitas de coros,
para molhar os pés cansados, nas águas geladas.

Tudo será a bem-se-ver, sem leis a incomodar…
que o maior sonho é ter nada, e negar o ouro –
valência, que nos faz tolos: às gentes desesperadas,
que de entressonho em entressonho vão parar,
a um qualquer manicómio, ou bebem do Douro,
o requintado vinho, que as vinhas, estão saturadas.

Meu pensamento aturado, à ilha, quer voltar…
depois que as geadas vieram – e eu não sou besouro.
(É tão fácil regressar, quando as pupilas ficam alumiadas).
Quero de novo a sensação, de na areia branca pisar,
rever, com moderada imaginação, meu tesouro,
que são meus sonhos, minhas Virgens Sagradas!

Mas, depois, de muito pensar, e de ponderar,
num último soslaio, vejo, sem que o veja, meu tesouro;
e as Virgens Anunciadas, afundam-se, bem afundadas,
com as ondas cavalo, nas crinas, trazendo o mar,
para levar tudo de volta, para os seus confins, anil e ouro –
digamos que preferi, pelas tuas mãos, acariciadas.


Jorge Humberto
12/01/11

DIZEM QUE MINTO

Tudo que vejo ou sinto,
fora da imaginação,
é tudo quanto minto –
eis a douta emoção.

Não minto, quanto penso.
A Razão, está certa
ou errada – é como lenço,
vai no vento, que a cerca.

Como tudo que escrevo,
antes de mais o medito,
não vá ao que devo,
não ser no outro, o que incito.

E no limiar da incerteza,
àqueles que me hão-de ler,
ser rei, sem realeza –
que mais vale ter, do que parecer.

Se ouvisse a voz do coração,
ao pensamento o algoz,
não haveria verso nem canção,
que ele se ilude, com tanta voz.

Assim, o que narro, a descrever,
é um som de mar, à praia dada –
é porque é, e se quer crer,
águas indómitas, onde já não há nada.

Isto é bonito e de realçar,
porque nasceu de minha imaginação.
Entanto ficou-me nas mãos, o sal do mar,
e um pensamento de haver continuação.

E vou por aí, alcançando sonhos,
quando a tarde é de um louro macilento –
flores silvestres, medronhos;
que melhor que isto, como argumento?

Jorge Humberto
11/01/11

A DOR QUE TE DÓI


Que a dor, que é dor, que dói,
breve seja, e não prevaleça,
no corpo teu que doendo mói,
e no fim só uma saúde vença.


No amor (aquele que te tenho),
como um nado sol a amanhecer,
saibas sempre tu, ao que venho,
como se fora um mar a antever.


Somos filhos, da Mãe Natureza,
cuidemo-la, que de nós cuidará…
e inda que órfãos, dela a certeza,
que em vindo a vã noite, nos velará.


A carne é fraca, bem o sabemos,
forte é o pensamento, a haver,
dele, tiraremos os dividendos,
aprendendo o que há de precaver.


E já sanada, com a vida pela frente,
teus medos, não mais agonizarás…
pois, diante de ti, terás o presente,
e a tudo, sem receios, ultrapassarás.


Eu continuarei a sonhar, um sonho,
que, só aos poetas, é permitido:
doces jardins, que aqui deponho,
porque tudo, no sonho, me é devido.


Jorge Humberto
10/01/11

NA PLÚMBLEA MANHÃ SEM SOL



Na plúmbea manhã sem sol –
nem vestígios de o vir a ter –,
o mar é calmo, falso arrebol,
por trás dos montes a haver.

Inda assim, estranhos casais,
passeiam-se demoradamente,
junto às casas, com seus taipais,
que os humaniza, vagamente.

A tudo vejo, no pensamento,
que aflora, por minha vontade –
faço-me ser duplo no firmamento,
e sem o saber, não tenho idade.

A versar e a sonhar, quem sabe
um momento, de felicidade,
não se traz, no que na alma cabe?
Ou serei só um espelho, em falsidade?

Breve, leve, corre uma brisa suave…
nunca quis grandes cousas aqui,
de mim, para mim próprio, sou entrave,
e com olhos, de tacto, a tudo vi.

Olhar é estar doente dos olhos…
que a ninguém ou cousa alguma vê –
ter nas mãos, flores, aos molhos,
pergunto eu então: para quê?

Na arrogância, a tudo pertencermos,
somos nada e promiscuidade…
nascem as cousas, jazem e morremos,
tudo o mais é dos deuses, diversidade.

Ah, sonhar, enfim, e, em sonho, dormir;
agora que sinto o mar revoltado…
quem sabe, o que está ainda por vir,
não mo importa, não serei acordado.

Estou cansado das gentes banais,
que vivem, porque vivem, sem o ser –
vejam bem, que são elas, as que tais,
que andam no mundo, sem o saber.

Jorge Humberto
10/01/11

domingo, 9 de janeiro de 2011


HÁ UMA MÚSICA INDISTINTA

Há uma música indistinta,
na floresta,
que, o rumor do vento,
atesta,
nas folhas das árvores,
quando estas roçam seu haver,
no verde, que as viu nascer.

São sons dispersos, na ramagem,
do outro lado da montanha,
até ao explícito, que flui com o ar;
não por haver, senão a demanda,
que eu não soubesse já –
como uma música de outros tempos:
em vãos e falíveis argumentos.

E isto, que vejo e ouço, ao longe,
com olhos de ver,
é uma ferida insolúvel,
daquele, que não pode ter,
nem a música nem a montanha,
por ter dos sons e das águas,
todas as distintas, mágoas.

E no sepulcro silêncio,
com os últimos sons, a descrer,
desta floresta, por imaginar,
volto costas, ao que sei saber,
por ter havido sentido,
quando a alma me falou,
que só uma brisa, aqui poisou.

Jorge Humberto
03/01/11

SÓ OS AMANTES SABEM BEM


Só os amantes sabem bem,
o bem, que lhes cabe bem,
como um beijo a antever,
o que mais ninguém pode ver.

Desce do monte, o nevoeiro,
da montanha, até ao outeiro,
dum ao outro, deitam,
os ilícitos, que nada suspeitam.

E num silêncio, indistinto,
nas planícies, que só eu pressinto,
os amantes, hão-de se entregar,
como se fosse aqui, o imenso mar.

Jorge Humberto
04/01/11

BOA-NOVA

Nunca olhei para trás;
talvez porque o passado não me
seduza.
Ou talvez, quem para trás,
fica observando,
fita a Medusa,
que o vai devorando.

O passado ao passado, pertence…
e vamos na vida, que se chama
presente.
Quem assim, de si, se convence,
verá doirar o entardecer,
num Poente,
a envaidecer.

Escrevo, porque me dita a alma…
e tocam os sinos, da minha
aldeia.
Arrebatem na tarde, com calma,
a chamar as gentes ao Adro –
o que aqui foi, é e semeia,
embora eu preferisse, sonhar um Prado.

Dormi, sonhei, um pássaro cantou.
Corre o rio,
para onde lhe leva o mar.
Cingiu de prata o céu, a lua, que lá amainou.
E as estrelas, aos pares, indecisos,
a Boa-Nova, vão levar,
àqueles mais doídos e imprecisos.

Jorge Humberto
09/01/11

VERSOS OBLÍQUOS

Nunca soube o que é ser-se,
de mim, para mim!
O que sou? Porque vim?
Se há aqui algum ter-se, a haver-se?

E, em contradição,
bate forte, um coração.

Quem me olha, quanto penso? –
Que, a pensar, levo a vida,
sem grande contra-senso,
que não ela própria, indevida.

Eras, de eras, a passar –
futuros, presentes e passados –,
são como heras, a medrar,
das paredes, aos chãos, enfaixados.

Também os nossos jardins,
devem ser, a todos, abertos –
onde pululem os jasmins,
algumas arcadas, feitas de abetos.

E crianças a sorrir, na macia infância,
no cais, ao longe, e ao critério
das águas, não têm discrepância,
são como flores, e ao seu mistério.

Mas este, nunca estar contente,
este sono, que mi alma, chama,
vem, inútil, como que num repente,
quando o entardecer, em vão, clama.

E escrevo versos, parecidos
comigo, para que mos reconheçam,
quando, aéreos, são paridos,
em partos sem dor, o tanto, que vençam.

Como miles estrelas, no firmamento,
descendo o monte, se clareia,
tudo tem, seu inútil, alinhamento,
e há quem chame coisa bonita, ou feia.

Feio, é o que se esconde ou olvida,
necrológio, que aos olhos, fere –
inda que fútil, a vida é para ser vivida,
não cessem a vontade, que ela gere!

Jorge Humberto
08/01/11

E INDA QUE AME…



Se de me pensar, me achei,
que, por me pensar, fui lei,
no que à Sorte, fui encontrar,
julguei-me, um imenso mar…


Mas como aqui, o dito mar,
se eu me vivo, a atrapalhar?
um espelho, que no inverso,
a nada é, nem o seu verso.


E inda, que ame (bem o sei),
de amar, amo, ou olvidei,
quando a noite, não traz
a luz, que, no céu, me satisfaz.


Todo eu sou pensamento…
Razão, que vai no firmamento –
sem coração, a desassossegar-se,
num cais, a desmembrar-se.


E no horizonte, que é a vida,
intento levá-lo, de vencida –
com o sol, a dar-me por trás,
num sono, azul, verde, ou lilás.


Jorge Humberto
07/01/11

NESTE DADO E IMPRECISO MUNDO


Neste dado e impreciso mundo,
onde me encontro, e à Sorte, infecundo,
minha alma, que nada quis,
teima, como num fado, em ser meu juiz.

Quero antes os grandes montes,
onde medra a erva, e nascem as fontes,
e se um querer dormir-me, vier,
que traga o sonho, e ao que souber.

Nado ou posto sol, no cais, terá mil águas…
e de remos perdidos, transtorno de mágoas –
que são como folhas a secar, depois a cair,
donde lhe nasce a raiz, e todo o seu sentir.

Então irreal, e em erro, farei meu caminho,
de mim, para comigo, vizinho –
estrangeiro de mim mesmo, e ao que sou,
buscando, talvez, aquela, que, um dia, me amou.

O resto é nada:
como uma ida, sem volta.

Jorge Humberto
06/01/11


DORMI, SONHEI…

Dormi, sonhei, sonhos ou falsa lei…
como um barco, à deriva no cais,
sem vento, que do vento, não sei,
nem se o sonho, me pertence mais.

É antes do sonho, que vem o sono –
um estar comigo a sós, de quem se tem,
entre árvores, árvores, não têm dono,
da vã existência, existindo, mais além.

Lindas rosas, quem me as roubou?
A quem deste, enquanto inerte fui?
Não sou nem este, nem o que se achou,
somente uma planície, que no rio, flui.

E inda, que tudo tenha desaparecido,
desce do monte, uma suave aragem –
no sonho, que sonhei, és comigo,
a Razão, porque sou, serena paisagem.

Jorge Humberto
05/01/11

E JÁ ESTOU OUTRA VEZ ALI


E já estou outra vez ali...
e por me haver debruçado,
na janela desperta,
sinto que em mim sou acordado,
que a vida é incerta.

Em pensamento, chamo-te…
femíneo corpo, de cetim…
e o rio corre, para onde vai,
buscando no teu jardim,
o que, na noite, se esvai.

Dum ao outro, ilusão,
que, do desejo, e à sua sorte,
vem o despertar, inesperado,
como se fosse a minha morte,
num beijo, há muito guardado.

Jorge Humberto
02/01/11

ALMAS DESAVINDAS


Tenho tantas almas,
que, no descrer,
são montanhas a aparecer,
vãs e inúteis – sensações,
que a Razão desconhece,
e no mar permanece.

Bóiam águas calmas,
nos fúteis pensamentos…
perdidos remos e alentos,
vagando águas, outros olhos –
que nos meus, não têm porquê,
como um haver, de nem sei quê.

E da montanha, a descer,
só um nevoeiro se vê,
nado ou posto, como nem quê –
como estas almas, que me assaltam,
num redemoinho, de momentos,
cobrindo-os, de feros ventos.

Minhas almas desavindas,
são como esses ventos,
insistem nos pensamentos,
que de haver, já o eram –
assim um arado, na pedra,
onde alma alguma, medra…

Jorge Humberto
02/01/11

sábado, 1 de janeiro de 2011


QUERIA UM SOSSEGO DE SOSSEGAR-ME

Queria um sossego de sossegar-me,
entre crianças e flores a lembrar-me,
que o que sou ou fui, inda insiste,
no debruar das nuvens, que consiste.

Lembranças são barcos a perder-se,
num oceano, que, no mar, invertesse,
o sentido das cousas, e ao essencial,
que no mundo buscasse, o segredo original.

O resto é nada.
Cala.

Jorge Humberto
01/01/11

AQUELE QUE EM FLOR TE QUIS

Não sei que sou ou fui,
sou um rio que flui,
entre o estar e o ser,
que a poucos tem dizer.

No oceano derradeiro,
de todos fui o primeiro –
ficou-me da vã Sorte,
a certeza, que é como à morte.

E se sou um sono de dormir,
minhas mágoas a carpir,
durmo em mim o que não há –
dum a outro lado, se bastará.

Tudo é vão, quanto consente.
Nunca fui feliz nem contente…
e se hoje me sinto a amar,
é porque antes, soube sonhar.

E se no sonho, doutro sonhei,
talvez tenha sido um rei,
ou a lua, quando desaparece,
que à manhã trouxe benesse.

Aquele, que em flor te quis,
como se traçasse a giz,
o teu rosto, que nem sei,
de tudo quanto eu te dei.

Jorge Humberto
31/12/10

NESTA VIDA E À SUA SORTE

Nesta vida, e à sua Sorte,
caminhamos nosso bem-querer.
Como quando a alma é forte,
e tem sempre, o que nos dizer.

Não sou senão um passageiro,
que, ao passado, nada deve.
Fé? Que sei eu? Metade ou inteiro,
à régia sina, não foge nem teme.

Tudo é nada, e é essa a beleza…
recordar é exercício inútil…
como quando, uma certeza,
mo mostra, que tudo é vão e fútil.

E, assim, no outeiro, que luz,
quando a noite a nós é chegada,
minha alma canta e seduz,
como um carme, à minha amada.

Jorge Humberto
31/12/10


HÁ UM SOM DE SONS NO AR


Há um som, de sons, no ar,
entre a nébula e a cessação.
E, a melodia, a se escapar,
inda palpita, na minha mão.

Como se houvesse lembrar,
que no pensamento ficasse,
de um velhinho gorjear,
do pássaro, que lá reinasse.

E de um ao outro, o canto,
que eis ouvido, na floresta,
não fosse senão um espanto,
de tudo o que nos resta.

Ilusão ou simples alquimia?
Quem, destes sons, escutou,
sua razão, entanto nasceria,
o que só o coração guardou.

Jorge Humberto
30/12/10